O Coronel Fernando Figueiredo, apresentou, com o Prof. Doutor António Correia de Campos o livro "A FOTO" no Solar do Vinho do Dão, em Viseu, em 2013-02-15.
A quem nãpo conheça e queira conhecer Fernando Figueiredo aconselho a leitura do post com a intervenção do José Gomes de Pina no mesmo evento e que será publicado a seguir a este. Ou então, ou então... uma visita ao seu já famoso blog Viseu Senhora da Beira.
Eis o que o Cor. Fernando Figueiredo disse na sua apresentação:
" Quando em 2004 descobri o mundo da blogosfera, o cidadão Fernando Figueiredo tinha por ideia aproveitar destas novas ferramentas de informação e criar um espaço onde pudesse ir retratando a cidade. Os primeiros posts foram inócuas descrições de lugares da cidade, figuras históricas, fotos e outras opiniões sem qualquer preocupação de análise mas tão só vulgares copy past do que já existia na internet e o Blogger permitia reunir no mesmo endereço. Mas, há sempre um mas, um comentador com o pseudónimo Beirão cedo marcou presença assídua no blog e mais depressa ainda com os seus assertivos, desapaixonados e ajustados comentários conduziu a que o VSB seguisse um outro caminho. Daquele quadro histórico e olhar fotográfico da cidade o Beirão conseguiu convencer o autor do VSB a ter “do alto da Sé, à luz dos valores do herói lusitano, um olhar critico, independente e exigente sobre as terras e gentes da região de Viriato. Com as referências do passado, as preocupações do presente e a esperança no futuro, caminhar em conjunto nesta encruzilhada de gentes e vontades beirãs da Cidade de Viseu teria de ser a sua marca!”
Ora, ao passar a ter uma intervenção
mais activa de cidadania participativa na cidade que corresse até o risco de
ser entendida como opinião politica não poderia por razões estatutárias deixar
de o fazer na clandestinidade e a escolha do Bazookas como pseudónimo aconteceu
naturalmente. Militar a querer não perder a cidadania só o poderia fazer
protegido do “fogo adversário” e munido de armamento factualmente dissuasor. Na
ocasião dizia-me até em jeito de graça um General a quem confessei tal
desconforto de não me quer privar de participar na vida da cidade e ter que o
fazer desta forma que se pode militarizar um civil mas civilizar um militar é
tarefa mais difícil porque a farda cola-se à pele. E o blogue lá foi avançando,
ganhando notoriedade, alguns amigos e muitos outros pouco amigos, espaço de
debate, de denúncia, de controvérsia mas sobretudo tornou-se uma ponte entre
aqueles que obrigando-se a sair da cidade, porque para eles se tornou pequena,
nunca deixaram de a transportar consigo nas suas preocupações. E foram esses, e
em especial o Beirão, que nunca deixaram que o espaço fechasse portas como
tantas vezes o tentei fazer e outras tantas me apeteceu pela incompreensão ou
ingratidão que por este ou aquele motivo fui encontrando, dado que não sendo
detentor da verdade também nesta ou naquela ocasião terei sido injusto ou mesmo
ingrato com um ou outro assunto ou visado nele.
Anos mais tarde a passagem à reserva
por minha livre escolha antecipando igual decisão do Papa e contrariando a
norma geral de quem vive alapado ao poder e dele vive como se coisa sua se
tratasse, permitiu trocar a bazooka pela caneta e dar a cara além do corpo às
balas. Curiosamente, dizem-me que hoje incomoda mais a caneta desta minha
faceta de cidadania interventiva que a bazooka de tempos idos, mas enfim, eu
também ainda não me habituei à ideia de encontrar na política quem se arrogue a
limitar a liberdade de expressão daqueles que em Abril de 74 lhe devolveram
esse valor maior da democracia. Outra curiosidade que aqui partilho convosco é
a de saber onde raio me irão colar politicamente agora depois de me saberem
envolvido neste evento com os “duros” da foto!
Adiante, pois, foi assim já como
activo cidadão na reserva militar que tropecei um dia numa foto e surpresa das
surpresas, o Beirão de pseudónimo era também ele um viseense activo na sua
cidadania e possuidor de uma história de luta pela liberdade.
Fiz esta curta alusão ao VSB para
perceberem do paralelismo com este grupo de oito jovens que, com mais treze
outros, tiraram uma fotografia de circunstância, em 1963, no campo de futebol
do I.S.Técnico e que também parte deles viveram na clandestinidade sem nunca se
privarem do direito e dever de lutar por um Portugal livre e democrático. São
eles que, tal como o VSB serve de ligação com os viseenses espalhados pelo
global espaço cibernético, também servem de ponte com o Portugal de ontem e de
hoje.
São eles que nos contam da “sociedade
tacanha e retrógrada (…) (que) não aceitava facilmente os jovens a intervirem e
a contribuírem para as grandes mudanças que se avizinhavam como certas” ou da
“prossecução da utopia e a confiança num futuro melhor pelo qual vale a pena
lutar.
São eles que nos contam “do medo que
todos os dias de mansinho se insinuava nas vidas de quem não fora feito para
estas vidas” retratando o Portugal daquele tempo da ditadura.
Significativo ainda, no livro que
hoje aqui se apresenta aos viseenses, se mostre como a política era, mais que
tudo, um compromisso de estar com os outros e tecer com eles laços de
cumplicidade no desiderato de um futuro comum. Apesar das diferenças, havia
muito que os unia e um Portugal inteiro a reclamar progresso dependia dessa
comunhão de interesses.
Viseu também surge neste livro
retratada pelo Gomes de Pina, o viseense, mostrando a vida na cidade de então,
as tradições, o pensar dos seus habitantes, a vida do jovem que se obriga a
estudar em Lisboa sem esquecer a cidade. Anos depois o Beirão do VSB continua a
participar com as suas diferentes opiniões no desiderato de uma Viseu mais
desenvolvida, sustentada e projectada no futuro com mais emprego, bem estar e
qualidade de vida para além do betão e da flor da rotunda que garantam que outros
Gomes de Pina não precisem de encontrar em Lisboa nada que Viseu não lhes possa
oferecer. É nesta diversidade que mais não adianto para não vos roubar o prazer
da leitura, que Gomes de Pina situa a necessidade de discutir a cidade e que
mostra que, apesar das nossas diferenças, Viseu tem que ser um projecto comum,
aparte das politiquices e visão rotundista que alguns dos responsáveis pela sua
gestão autárquica ainda teimam em manter.
Citando José Manuel Pureza a
propósito deste livro, também eu infelizmente comungo da ideia que “daqui a 50
anos, um livro escrito por oito jovens activistas de hoje não terá estas
referências. Falará de precariedade, de desilusão, de emigração. Talvez fale da
democracia como uma promessa sempre querida.”
Cada um dos autores desta foto local
e nacional acabou por escolher diferentes caminhos partidários, mas há um tempo
que lhes foi comum, uma ética que ultrapassa partidos e esse é o grande legado
que neste livro, na minha óptica, deixam às gerações vindouras.
É por isto que lhes fico grato e é
por esta oportunidade de convosco o partilhar que lhes deixo o meu beirão Bem
Hajam!
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