A FOTO


2022-06-03

 




PASSEATA POR TERRAS DO NORTE

 

Um passeio repousante por terras minhotas e transmontanas levou-nos até um sitio paradisíaco situado entre a serra do Gerês e a serra da Cabreira.

O DOBAU Village pequeno hotel com todo o conforto onde tivemos uma recepção afetuosa, como é apanágio das gentes destas terras.

Não vou prolongar-me nas  virtudes da hotelaria e fico-me por esta vista deslumbrante sobre o rio Cávado (ver foto).

Mas, a curiosidade que foi tema de conversa dos passeantes recaiu sobre o nome da Village, DOBAU, houve mesmo quem alvitrasse que se tratava de uma cadeia de hotéis argentinos.

Para esclarecer este enigma, resolvemos abordar o gerente ou dono do hotel que era um jovem muito afável e simpático.

Assim foi. O gerente-dono esclareceu-nos: - Tinha herdado da sua avó um terreno de 6 hectares naquela soberba encosta e resolveram construir este hotel e mais umas casas (villages), piscina, um parque infantil, uma cerca com póneis, galinhas, cabras, outros animais domésticos e dois observatórios astronómicos.

E o nome? Perguntámos nós. O nome é simples e não foi preciso grande engenho, o terreno da avó era conhecido pelo "o do Vau" e na pronuncia do Norte os vês são pronunciados bês, ficou a chamar-se DOBAU.

 

 

2017-11-11

Escola Central do Konsomol 1966 / 7 - um ano na União Soviética

Este é um dos capítulos da minha participação no livro A FOTO:

XI
Vichniki

O Konsomol era a organização da juventude comunista e organizava jovens das cento e uma nacionalidades que compunham a União Soviética.
A Tecê Ká Chá, em Vichniki, nos arredores de Moscovo, ficava no meio da vasta floresta de abetos que rodeia esta cidade. O primeiro passeio na mata levou-me a um belo palácio oitocentista, à beira de um pequeno lago rodeado de arvoredo que começava a tingir-se de tons dourados e rubros adivinhando a aproximação do Outono. Tal como Anton Tchekhov descreve a região, no seu único policial Um Drama na Caça.

A pouco e pouco foram chegando umas três centenas de alunos da União Soviética e do resto mundo, enviados pelos partidos comunistas e por movimentos de libertação de África, da Ásia e da América Latina para prepararem quadros políticos. Eu, a Ana, pseudónimo que escondia o seu verdadeiro nome: Mariana, que viera a salto, comigo, de Portugal e a Maria Machado que, ali usava o nome de Leonor e chegou três semanas depois, éramos,  naquele ano lectivo, os únicos portugueses. O curso incluía o Russo, Economia Política, Filosofia, História do Movimento Comunista e Operário e História do Movimento Sindical.
A escola era constituída por um conjunto de edifícios,  alguns dos quais reservados ao alojamento dos alunos.
Três pisos tinha o prédio onde ficava o meu quarto. A sala de entrada do edifício era o reino da vigilante, uma simpática e resmungona velhota dona duma secretária atrás da qual descansava os seus entrados anos. Para nós era a Mama.
Todos a tratávamos carinhosamente mas sem lhe darmos grande oportunidade de nos governar como pressentíamos que gostava ou teria por tarefa. Difícil esta, a de manter numa certa ordem e disciplina aquela juventude endiabrada, em especial os azougados latino-americanos.
Cumprimentávamo-la a correr com um bom dia em russo mal soletrado.
— Dobréutra, Mama.
— Dobréutra taváriche— respondia-nos, matinal. 
Taváriche é camarada em russo. Era uma palavra chave na sociedade soviética. Camarada, em vez de senhor! Uma forma de tratamento que ficou da Revolução de Outubro de 1917 e que para nós era símbolo e prova da superior sociedade nova.
No nosso edifício estavam alojados jovens da Europa, da América Latina e da União Soviética. No rés-do-chão e no segundo andar ficaram os rapazes e no primeiro as raparigas. Havia búlgaros, polacos, húngaros, russos, mongóis soviéticos, casaques, azeris, cossacos e tchetchenos. Da Europa Ocidentalalém de nós portugueses,  havia estudantes de França, Itália, Berlim Ocidental, Dinamarca, Finlândia e gregos de Chipre. Da América Latina tinham vindo jovens  da Argentina, do Chile, da Colômbia, do Peru, da Nicarágua, de São Salvador, da Guatemala e do México. Vários dos estudantes lutavam na clandestinidade nos seus países, como sucedia connosco, ou em situação de guerrilha e guerra civil. Alguns vinham da guerrilha como era o caso dos guatemaltecos, chegados duma Guatemala vitima dos massacres de uma ditadura sanguinária.
Eu e a Ana fomos os primeiros a chegar e a habitar aquele casarão. Passadas duas semanas chegou a Leonor. Cumprimentei-a com a curiosidade de quem vê mais uma colega para os próximos dez meses de aulas e não como a namorada que, uns meses depois, semearia de emoções novas o curso e daria à nossa presença na Rússia uma perspectiva festiva.
A pouco e pouco foi chegando à Escola Central do Konsomol uma babilónia de gente. Alguns latino-americanos pelavam-se por namorar as russas, as finlandesas ou as dinamarquesas que ostentassem cabeleiras de um loiro prateado.
As relações entre os jovens eram bastante mais descomplexadas do que no Portugal daquele tempo. Mais ou menos como são hoje por cá. Razoavelmente desinibidas mas não faziam jus às lendas do amor livre ou da invejada devassidão dos comunistas. A sociedade soviética moderara-se, relativamente aos tempos da Revolução de Outubro, no relacionamento dos sexos.
A Leonor foi acomodada no quarto da Ana e eu acabei por ficar só no meuo que tomei como um privilégio para poder namorar à vontade.
Os primeiros meses ocupámo-los com prospecções afectivas internacionais. A Rússia, o México, a Argentina, a Guiné Bissau, Moçambique, e até o povo cossaco foram objecto de especial investigação e recreio do pequeno grupo de estudo português. Depois de um ano de clandestinidade, só amenizado nos primeiros meses por meia dúzia de encontros apaziguadores, ter tanta rapariga com quem conviver, num ambiente tão descontraído e solidário, parecia-me uma bênção caída do céu. Quase tão excitante como o estudo do marxismo-leninismo!
Com o inverno, veio a neve. Estávamos numa aula de Russo com a nossa jovem professora e especial amiga, Rosa, quando ... continua aqui

2013-04-30

EM NOME DOS AUTORES

Eram 11 horas de domingo, 28 de Abril de 2013. Estávamos no auditório da feira OVIBEJA. Decorria a apresentação do livro A FOTO e o reencontro meio século depois. Já tinham falado António Baptista Lopes pela editora Âncora e António Sancho, director da revista MAIS ALENTEJO, que fez a apresentação do livro quando anunciaram: "E agora tem a palavra Noémia de Ariztía, que vai falar em nome dos autores.
" Ecoou então pela sala um expectante silêncio enquanto, meio sussurrado, se ouvia uma voz de criança chegando-se à mãe "É aquela do cabelo encarnado?" 

NOÉMIA DE ARIZTÍA:
______________________________________________
 
Todas íbamos a ser reinas,
de cuatro reinos sobre el mar,
Assim começa o seu poema Gabriela Mistral, poetisa chilena Prémio Nobel da Literatura em 1945.
 
Nós, pelo contrário, nos idos anos de 63, sabíamos que o nosso futuro não estava tão garantido. Mais exactamente, era muito incerto. Jovens todos a despertar para a vida mas já com uma consciência muito clara das injustiças que então se viviam em Portugal, só as certezas da juventude nos animavam.
E um dia, já entrados em idade, voltámos a encontrar-nos e decidimos rever os nossos percursos. O pretexto foi uma fotografia esquecida durante quase 50 anos e encontrada, já um pouco amarelecida, no fundo de uma caixa.

Descobrimos então que embora nenhum de nós tivesse sido rei nem rainha, todos tínhamos conseguido ultrapassar os perigos das perseguições da polícia política (a PIDE) e os altos e baixos de uma vida para todos nós bastante acidentada e imprevista. E descobrimos também que aquilo que nos unira lá longe, há 50 anos, nos continuava a unir – a comprovada amizade e uma ética de vida, princípios e lealdades que hoje, na catastrófica situação política que o nosso país vive, se afirmam mais necessárias  do que nunca. 

Foi esse relato que decidimos fazer ao escrever este livro. Na fotografia original aparecem 21 jovens estudantes – a maioria já na universidade e outros ainda nos liceus. Diligentemente o Raimundo Narciso conseguiu encontrar-nos todos, mas soubemos então que 2 amigos tinham já falecido. Dos restantes 19, por dificuldades várias, foram 8 os que se decidiram a empreender a tarefa de relatar as suas vidas. 
São eles, e refiro-os pela ordem em que aparecem no livro:
 
O Joaquim Letria, brilhante jornalista e sobejamente conhecido, não necessita de apresentações. No seu texto ele recorda-nos e retrata-nos a todos quando jovens. E devo confessar que o seu texto muito nos emocionou. 

O Jaime Mendes, médico pediatra, a quem agradeço o cuidado com que diligentemente acompanhou a infância dos meus filhos, relata a sua acidentada fuga a salto, guiado por um contrabandista, depois de descobrir a traição do funcionário do PCP Nuno Álvares Pereira.  A sua chegada à Suíça, onde se formou, se casou com a Teresa Tito de Morais e nasceram os seus dois filhos. E depois o regresso, já depois do 25 de Abril, e a obrigação de cumprir o serviço militar. Como médico foi enviado para a região de Viseu, integrado nas Campanhas de Dinamização e Acção Cívica, tão importantes naquela época em que ainda não existiam nem Centros de Saúde nem Médicos de Família. 

O José Gomes de Pina, Engenheiro civil com intervenções profissionais em várias obras que marcaram a nossa modernidade. Vindo de Viseu para estudar Engenharia no I.S.T., descreve-nos a adaptação e integração de um jovem “beirão” na grande cidade que era a capital do País e a descoberta dos valores da vida associativa na Associação de Estudantes do IST. Foi o único deste grupo que fez o serviço militar em África, Angola, já como Engenheiro.

O Mário Lino, Engenheiro também sobejamente conhecido, fala-nos dos seus anos de estudante vindo de Moçambique, e cito as suas palavras – “foram anos extremamente ricos em acontecimentos nos planos nacional e internacional, que marcaram indelevelmente a minha formação cívica, politica, cultural, científica, técnica e profissional, influenciando o meu futuro como homem e cidadão”.

A Paula Mourão, Geóloga nascida em Moçambique e casada com o Mário Lino. Traz-nos as imagens de África, tão presente na nossa história e também a adaptação de uma jovem (desta vez no feminino) à vida na metrópole. Fala-nos também da prisão do seu companheiro – o Mário Lino – e do seu regresso a Moçambique, desta vez como cooperante, já casada e com os seus dois filhos.

O Raimundo Narciso, que durante 10 anos viveu na clandestinidade com a sua companheira, a Maria, como funcionários do PCP, e que conseguiram a extraordinária proeza de nunca terem sido presos. Foi ele também o responsável pelos vários contratempos criados pela actuação da ARA no tempo “da outra Senhora”. De nós todos, o Raimundo foi o que teve um percurso político mais empenhado. No seu texto o Raimundo imagina como teria sido a reacção daqueles jovens se tivessem sido de repente, assim, por artes da super-tecnologia, confrontados com a actualidade.

A Teresa Tito de Morais Mendes, minha amiga desde os primeiros anos do Liceu, ela ainda de caracolinhos e eu de tranças, fala-nos do seu avô, o Almirante Tito de Morais – figura marcante da nossa República que no dia 5 de Outubro bombardeou o Palácio das Necessidades e que para nossa vergonha já não é um dia para ser recordado como heróico, e fala-nos também do seu do seu pai, um dos fundadores do Partido Socialista. Conta-nos também como aos 18 anos a PIDE a foi buscar ao avião que a iria levar ao exílio na Suíça, os meses de prisão, finalmente o exílio na Suíça, onde se casou com o Jaime Mendes e teve dois filhos. E depois o regresso a Portugal e a criação do Conselho Português para os Refugiados, que exemplarmente preside tentando dar apoio aos que, como nós naqueles anos cinzentos, continuam a necessitar fugir dos seus países e encontrar um refúgio digno de um ser humano.

 E finalmente eu, Noémia Simões de Ariztía, saí do País com 19 anos, andei por vários países – Inglaterra, França, Jugoslávia (hoje Sérvia), onde casei com um pintor chileno (que também participa neste livro com o colorido separador que dele faz parte integrante). Depois Itália e finalmente o Chile, à procura da sociedade ideal, que tinha chegado ao socialismo graças aos votos dos seus cidadãos, mas de onde tive de sair, já com uma filha, não sem alguns percalços depois do golpe militar de Pinochet ter deitado por terra tanta esperança.

 Tentei aqui fazer um pequeno resumo deste livro escrito com muito entusiasmo. Agora terão de o ler para descobrir o que aqui apenas se antevê como aperitivo.
 Resta-me agradecer a todos aqueles que nos permitiram primeiro publicar e em seguida divulgar em Beja a nossa iniciativa:
À Editora Âncora e ao António Batista Lopes por ter acreditado que o nosso livro valia a pena.
Ao Dr. António Sancho, ilustre Director da revista "Mais Alentejo", que amavelmente acedeu a fazer aqui a apresentação do nosso livro.
E à OVIBEJA, que nos cedeu este espaço e nos permitiu contar aqui as nossas histórias.
Só quero aqui fazer mais uma referência. A homenagem à proverbial boa cozinha portuguesa - nos animadíssimo almoços em que, com o pretexto da preparação dos nosso textos, íamos festejando o nosso reencontro e em todas as apresentações deste livro realizadas em Lisboa, no Porto, em Coimbra, em Viseu, em Vila Franca de Xira e agora em Beja, onde nos deliciámos com as variadas especialidades características de cada região, numa insofismável demonstração de que o nosso pais, embora pequeno em extensão, é enorme em qualidade de vida. Urge por isso defendê-la custo o que custar. 

E termino como comecei, com palavras de Gabriela Mistral 

"En la tierra seremos reinas,
y de verídico reinar,
y siendo grandes nuestros reinos,
llegaremos todas al mar."
O nosso reino é enorme, e chegaremos todos ao mar. É esta a certeza que nos move.
_____________________________
«A Teresa Tito de Morais Mendes, minha amiga desde os primeiros anos do Liceu, ela ainda de caracolinhos e eu de tranças»:
Noémia de Ariztía
Beja, 28/Abril/2013

A Foto: A última tomada de Beja

A Foto: A última tomada de Beja:   Fomos a Beja. A cidade foi fundada pelos Celtas 400 anos a.c.. Depois os romanos tomaram conta dela. E do resto da península. Chamara...

Excelente texto este do já famoso escritor Raimundo Narciso, em que nem faltou uma lição de história ou não fosse ele da direcção do NAM.
Apenas algumas precisões que vêm somente enriquecer a história:

  1. - Falta um cavalo a vapor, que é, nem mais nem menos, o meu velhinho Citroen C5, que pode bem ombrear com os Fords e BMWs germânicos.
  2. - Confesso que já não me recordava que o meu antepassado Gonçalo Mendes da Maia tinha reconquistado Beja
  3. - Na verdade esta ida à Ovibeja foi também um passeio de saudades e reencontros, desde o meu amigo Moleiro até aos meus primos, do lado Teixeira, Verónica e seu filho Fernando que nos acompanharam no lançamento do livro assim como no almoço. 


2013-04-29

A última tomada de Beja

 
Fomos a Beja. A cidade foi fundada pelos Celtas 400 anos a.c.. Depois os romanos tomaram conta dela. E do resto da península. Chamaram-lhe Pax Julia. A seguir vieram os Mouros que estadeavam por perto, por Marrocos e eram senhores da Andaluzia e outras partes sulenhas da Ibéria.

Por último fomos lá nós, os portugueses, ainda pouco portugueses, ora sob as ordens do rei Afonso ora do rei Sancho seu filho ou das Ordens militares que no fundo era o mesmo ou no fio da espada de aventureiros de vender a alma ao diabo, como o Geraldo, o Sem Pavor. Geraldo e o seu bando tomou a cidade aos muçulmanos, pilhou-a, incendiou-a, derrubou as muralhas e abandonou-a em seguida, em 1162. Ao que parece, se não é confusão de data de gente que não passava ao papel as suas façanhas, voltou a fazer o mesmo dez anos depois.
Ora nossa ora deles Beja esteve na mão do Lidador, o valente cavaleiro Gonçalo Mendes da Maia, nomeado fronteiro-mor de Beja por Afonso Henriques. Em 1170, Mendes da Maia quis festejar o seu 95º aniversário com uma surtida contra os mouros e nela morreu. Mais lenda menos lenda ficou herói de Beja e tem lá uma estátua de 5 metros de altura que bem merece. Os Almóadas que escolheram Sevilha para sede do seu poder recuperaram-na em 1175. Umas vezes na mão do Califa outras na do rei de Portugal Beja, Pax Julia ou Baju, como os sarracenos lhe chamavam, acabou portuguesa.
Decidimos ir a Beja neste domingo, 28 de Abril de 2013 para ver em que pé estavam as coisas. Partimos cedinho e o pretexto para a nossa surtida era a apresentação do livro A FOTO, a lusitanos ou mouros no caso de alguma investida destes feita de surpresa. Partimos bem artilhados em potente cavalaria (cavalos/vapor?) das melhores raças: BMW, Ford, Peugeot, Honda.
À hora combinada, à entrada da OVIBEJA lá nos encontrámos todos os oito autores com os seus maridos ou mulheres, e também alguns filhos, noras e amigos. A cidade apresentava-se em festa e sem sinais de escaramuças. O ambiente era apenas ensombrado pelas núvens negras do poder central na mão de um almóada, um tal Passos Coelho, escudeiro do Kalifado sarraceno-prussiano de Berlim.
A Feira estava portentosa. Pavilhões com tudo o que se pode esperar que esteja numa feira. E, por todo o lado comida, acepipes, doces, vinhos. Ao que me garantiram a OVIBEJA já supera a célebre feira de Santarém. Esperava-nos o Dr. António Sancho (lá está, Sancho! , como no século XII ) director da excelente revista MAIS ALENTEJO que foi o apresentador do livro no auditório da feira. A sessão teve início às 11h (pontualidade à portuguesa!) e aberta pelo nosso editor da Âncora e amigo António Baptista Lopes que não se furtou a vender livros mal a sessão terminou. Seguiu-se-lhe na palavra António Sancho que foi rigoroso e conciso e por fim, em representação dos autores falou Noémia de Aríztia e fê-lo com tal proficiência e desempenho que viu recompensada a sua excelsa intervenção com uma demorada salva de palmas. Com tão buriladas palavras antevi uma corrida ao livro.
Na sala estava também o nosso anfitrião na qualidade de responsável pela feira e pelo auditório, Lopes Guerreiro, que é também candidato à Câmara Municipal de Beja com o estatuto, cada vez mais apertecível, de independente. O Jaime Mendes e eu encontrámos um velho amigo que não víamos há muito, o médico Dr.Agostinho Moleiro um homem da terra. Jaime Mendes não o via desde as campanhas de dinamização da saúde do saudoso PREC e eu desde os tempos em que ambos experimentámos a Assembleia da República no consulado de Guterres.

A nossa apresentação teve ainda a presença de gentes longínquas. Como já é habitual tivemos o previlégio da presença do pintor chileno Francisco Ariztia que teve a astúcia e o bom gosto de casar com a Noémia. Connosco também uma luso-neerlandesa, a nossa querida amiga Isabel Galacho e ainda uma simpática e também já querida amiga, argentina, a Carina Yoncheff, até nós trazida pela activista de todas as causas boas Ana Sá Gomes Pena.

Com tanta internacionalização demos um cunho cosmopolita à feira que foi, espero eu, muito notada em toda a cidade. Um ponto alto do nosso avanço sobre a capital do Baixo-Alentejo foi o almoço, um momento de profunda introspecção ajudado por bom vinho e adequadas sobremesas e muitas anedotas “chistes” e outras picardias.

O mérito desta sortida ao Alentejo profundo cabe todo ao autor mais famoso do nosso livro o grande artista da palavra e grande jornalista Joaquim Letria (disputa a afama com outro autor o ex-super-ministro Mário Lino e sua esposa, a Paula Mourão porque atrás de um grande homem quem é que está sempre? Uma grande mulher. Vejam os Obamas, por exemplo) Pois os responsáveis por esta reconquista de Beja aos Almóadas são o Joaquim Letria ou talvez mais ainda a sua mulher, a Berta, especialista em assuntos aeronáuticos, que o conduziu pontualmente à antiga Pax Julia.

A organização geral do evento foi propositadamente caótica. Mas um caos meticulosamente organizado para que tudo parecesse que ia correr mal mas afinal tudo corria bem como realmente sucedeu. Creio que houve a preocupação de mostrar que “há muitas formas de matar pulgas”e de mostrar a diferença com Viseu onde o autor Gomes de Pina tinha revelado a que alturas inimagináveis era possível elevar a organização logística rigorosa de um complicado evento.
Uma presença incontornável pela simpatia irradiante que empresta a estes nosos filosóficos empreendimentos e que não posso omitir nesta notícia foi a da Teresa Tito de Morais que se vê na mesa sempre a meu lado em todas as apresentações que realizámos. Como a ordem na mesa é alfabética dizem que é por isso que fica sempre a meu lado mas eu estou certo que é para me demonstrar a sua amizade. Por fim queria referir a autora Maria Machado que não sendo autora do livro é autora de algumas das mais belas fotografias destas sessões.
 
Pax Julia, Buja, Beja.


 

2013-04-08

A FOTO em Vila Franca de Xira

No Sábado 6 de Abril, a partir das 16 horas, no Museu do Neorealismo, ocorreu a apresentação do livro A FOTO, em Vila Franca de Xira, por António Redol e José Medeiros Ferreira com a presença da Presidente da CM Maria da Luz Rosinha. Em nome dos autores falou Jaime Mendes cuja intervenção se apresenta a seguir.
 
Na mesa: Joaquim Letria, Gomes de Pina, Mário Lino, António Redol, Medeiros Ferreira, Maria da Luz Rosinha, Jaime Mendes, António Baptista Lopes, Paula Mourão, Raimundo Narciso, Noémia Aríztia e Teresa Tito de Morais Mendes. 
______________
 
Jaime Mendes: "Cabe-me a mim, o privilégio de falar em nome dos 8 autores, já conhecidos pela “malta do livro”. Depois do grupo ter sido tão bem representado pelo Raimundo, no Salão Nobre da Reitoria em Lisboa, imaginem que para o evento até pôs uma gravata, pudera ficou sentado entre o magnifico reitor e o nosso Presidente Jorge Sampaio, que apresentou “a obra”, num lindo salão repleto de amigos e curiosos, com a contribuição artística de Carlos Mendes.
A seguir foi a Teresa, em Coimbra, na Casa Municipal da Cultura, acompanhada de 2 amigos José Manuel Pureza e Manuel Alegre que tiveram a ingrata tarefa de travestir um livro de memórias num livro histórico, chegando até a sugerir que se realizasse um filme. Bem – Hajam.
É a primeira vez que uso tal expressão, o meu pai, maçon e anti clerical ensinara-me que era uma saudação carregada de conservadorismo, com cheiro a sacristia, mas desde que ouvi o secretário-geral do Partido Comunista a finalizar assim o seu discurso, na Comemoração do Centenário de Álvaro Cunhal, talvez o meu pai estivesse errado.
A cidade invicta, não podia ficar para trás até porque parte das minhas memórias escritas passam-se lá. A tarefa de nos representar desta vez coube ao Mário Lino, que o fez no Palacete dos Viscondes de Balsemão, com toda a segurança; pois o Porto está na margem norte do Tejo.
E a apresentação esteve a cargo de Augusto Santos Silva e do médico maiato José Ilídio Ribeiro.
A última apresentação do livro, organizada de maneira magistral pelo Gomes de Pina, o Beirão, no lindo Solar do Vinho do Dão, que foi o nosso porta-voz, tendo convidado, dois beirões, regionalismos à parte, para falarem: o Coronel Fernando Figueiredo e Correia de Campos.
Mas estes eventos só foram um sucesso devido ao profissionalismo do Editor da Âncora, António Baptista Lopes.
Esta editora faz-me lembrar uma história real passada com um escritor norte  americano que como os seus livros não se vendiam, mudou para outra mais agressiva que lhe preparou apresentações em todas as terrinhas do país. A meio das apresentações normalmente em livrarias das cidades, com uma frequência de 10 a 15 velhotes, desistiu. Qual não foi o seu espanto quando ganhou o prémio Pulitzer nesse ano. Moral da história; um dos velhotes era pai de um dos membros do Júri do referido prémio.
Vou, então, executar tão ciclópica tarefa de representar os demais autores, com a responsabilidade acrescida de ser no museu do neo-realismo, que desde já agradeço a cedência do espaço, na pessoa de António Redol.
Nós, somos a geração que veio imediatamente a seguir, direi mesmo que quase todos nós, jovens comunistas, aprendemos a ler com Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca e Alves Redol.
“Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro” dizia Soeiro nos Esteiros.
Para vocês, fangueiros dos campos da Golegã, escrevi este livro. Que algum dia o possam ler e rectificar – porque o romance da vossa vida só vocês o saberão escrever.” Escreve Alves Redol em Fanga.
Homens como estes morrem sempre cedo demais. As vidas esfumam-se quando ainda têm uma infinidade de coisas a ver e a dizer. A única compensação que existe para este destino é a continuação pelas gerações mais novas a quem transmitiram o testemunho.
Foi este desafio que o nosso anfitrião tomou em suas mãos com esta obra; o museu do neorrealismo, que só podia ser em Vila Franca de Xira, a terra de onde partiam os barcos dos célebres passeios do Tejo.
Já tinha ouvido falar de António Redol, por familiares deste, antes de o conhecer. Convivi com ele durante a greve estudantil de 62, onde ele actuava na Secção de Propaganda da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico. O Técnico tinha a Associação melhor estruturada da Academia de Lisboa e exerceu um papel preponderante na greve, por outro lado, o trabalho das secções de propaganda foi importantíssimo, com comunicados a saírem diariamente e distribuídos por todas as faculdades de Lisboa, durante meses. O que foi uma verdadeira dor de cabeça para a PIDE que nunca conseguiu localizar as impressoras, na altura offsetes.
António esteve ligado a esta secção, até ao ano lectivo de 63/64. Como se pode comprovar pela FOTO do livro em que pousa para a fotografia com um exemplar de um jornal acabado de sair, e foi presidente da Associação em 1965/1966, curiosamente um ano depois de Mário Lino, um dos autores do livro.
Foi também da direção do cineclube universitário, organismo circum-escolar, como se designava na época. Esta organização, teve um papel fundamental na formação das consciências estudantis na luta contra o fascismo.
Formou-se em engenharia química e trabalhou na EDP.
É um dos estudantes presente na já célebre fotografia do Livro. Apesar de ter participado no primeiro convívio na nossa casa em Santarém, declarou-se logo impossibilitado de colaborar devido ao trabalho em que estava e está empenhado no museu do neorrealismo.
Medeiros Ferreira, é outro dos apresentadores do livro e também meu amigo de longa data.
Outro dia, a mulher Maria Emília Brederote, pediu-me amizade no facebook , coisas que acontecem frequentemente nas redes sociais.
A minha amizade com o casal tem no mínimo cinquenta anos. O José Medeiros Ferreira foi um dos grandes dirigentes estudantis, até à sua expulsão de todas as universidades do país, durante 3 anos. Tendo também como alguns de nós sofrido a prisão e o exílio. Era assim o fascismo. Distinguiu-se no ano de 62, pela sua facilidade oratória e pelo forte sotaque micaelense, que o meu saudoso irmão Abílio, imitava na perfeição.
Não vou falar do seu extenso currículo, como politico e universitário, senão ficaríamos aqui toda a tarde. Trajecto por todos conhecido, deputado à Assembleia Constituinte, secretário de estado, ministro dos negócios estrangeiros, professor universitário, comentador e benfiquista.
Seguimos caminhos paralelos, mas julgo que este facto, em nada enfraqueceu a nossa amizade. Exilados na Suíça, nos mesmos anos, separavam-nos cerca de sessenta quilómetros, ele em Genebra e eu em Lausanne e diga-se em abono da verdade também atitudes políticas diferentes dentro do combate ao fascismo. Contudo, encontrámo-nos algumas vezes e em comum tivemos a vontade firme de regressar a Portugal, como única opção.
No regresso, ambos sofremos alguns entraves na realização da vida profissional, como sempre aconteceu neste país com os estrangeirados, desde Luís António Verney, no seculo XVIII.
Aos dois agradeço o terem aceite o convite para apresentarem o nosso livro.
Em todas estas sessões os colegas que me precederam, falam de como surgiu a ideia de escrever o livro, a tantas mãos, quantas as possíveis, mas eu não me vou alongar sobre este tema.
À duvida do que fazia um estudante de medicina no Técnico, a resposta é simples os meus pais moravam na Alameda Afonso Henriques.
Como um bom vendedor aconselho-vos a comprar o livro e para matarem a curiosidade leiam a Introdução: De uma foto, em 1963, a um livro, em 2012. O título diz tudo.
Abro aqui um parêntesis, para vos contar uma história lisboeta: Era hábito nos meses de Junho/Julho, época de exames ouvirmos um foguetório na Alameda o que correspondia a mais um engenheiro que se formava e por cada ano passado no Instituto lançava-se um foguete. Passados muitos anos, regressado da Suíça fui morar para as Olaias e todos os fins de mês era um foguetório pegado, fiquei curioso e perguntei se os exames finais podiam ser todos os meses do ano. Foi quando para meu espanto me explicaram que os foguetes vinham de Chelas e serviam para anunciar a chegada da droga. 
Fechando parêntesis, vou dar-vos uma novidade em primeiríssima mão, a nº 6 da foto, a rapariga que ficou registada no livro, por não identificada, e lhe apelidaram maldosamente de Mata Hari, já é conhecida, tinha-se remetido ao silêncio, tal freira carmelita, mas foi traída e identificada. Surpresa ou não, é uma grande amiga também como a todos os outros, separada pelas estradas da vida.
Os segredos neste país são difíceis de guardar. Faz-me lembrar um amigo brasileiro, infelizmente já falecido, que viveu em Portugal durante o PREC, período em que as notícias sigilosas chegavam a ser várias por dia e contraditórias, dizia na sua graça habitual quando lhe pediam segredo: - Está tranquilo, cara, essa fica entre nós e o povo.
Só nos falta descobrir quem foi o fotógrafo, a minha teoria é que era uma máquina de disparo automático. Garanto que já existiam há cinquenta anos.
 Last but not least o livro é acompanhado de um marcador, cópia de um mural pintado no largo do Calvário pelo nosso querido amigo Francisco Ariztia, em 1975.
Para quem não saiba o Pancho é casado com a Noémia de Ariztia, née Simões.
O livro se não serviu para mais nada, valeu por ter trazido ao convívio, os amigos afastados pelos caminhos dispersos.
Para gozo de todos nós, os encontros continuam, a pretexto de mais um lançamento do livro especialmente acompanhado de arroz de polvo, chanfana, cozido à beirão ou dum sável com açorda.

2013-03-01

A Foto vista de Viseu


O Jornal do Centro (Viseu) noticiou assim a apresentação de A Foto na capital beirã.


 Nota: em pé vê-se o Coronel Fernando Figueiredo, que com o ex-ministro Professor Correia de Campos, apresentou o livro.

2013-02-21

"A Foto e o reencontro meio século depois" em Viseu e no Youtube

Sobre a apresentação do livro "A Foto e o reencontro meio século depois", em Viseu, em 15 de Fevereiro passado, apareceu-me hoje na caixa de correio um vídeo, que aqui vos ofereço, sobre o evento escrutinável até ao pormenor nos posts que antecedem este.
Mas quem me enviou tal prenda? Pois nem mais nem menos que o Sr. "Alerta do Google" a quem deixo os meus agradecimentos mas não responde à minha interrogação: Quem fez o vídeo? Concluo, pelo anúncio, que terá sido o Solar do Vinho do Dão que simpaticamente nos deu guarida à apresentação e nos ofereceu uns copos no fim.
Agora aqui entre nós, off record, para escapar ao "Alerta do Google", se este tipo o Google sabe que eu gostaria deste vídeo certamente sabe muito mais a meu e a vosso respeito. E até onde? Até onde vai a devassa da nossa vida privada por este cavalheiro a que acresce agora, a bizarria das facturas com nº fiscal, a devassa Big Brother do Gaspar, do Passos, do Relvas e dos seus patrões da tróica?
Esqueçam. Foi um desabafo. Vejam o vídeo se vos apetecer. Em especial a nossa Mata Hari. (Isto da Mata Hari é mensagem cifrada, é só para a seita d' O LIVRO).



2013-02-19

A FOTO foi a Viseu

Gabriela, Raimundo, Mário, Pina, Noémia no adro da Sé de Viseu
O Zé Gomes de Pina, que no seu/nosso livro se apresenta sob as vestes de O BEIRÂO foi inexcedível no rigor, na organização  e na solicitude que se impôs na tarefa de anfitrião na romagem que os autores de A FOTO fizeram a Viseu para assistir aqui à sua apresentação em 15 do corrente Fevereiro.
Confirmámos que o Gomes de Pina é um apaixonado pela sua terra natal, a bela cidade de Viseu e após a visita guiada que por ela nos ofereceu confirmámos que a vetusta e simultaneamente moderna capital das Beiras é credora do maior apreço.
Eram quatro os carros com os autores e editor que rumaram à terra de Viriato, na manhã de 15 de Fevereiro. Confortados, ao almoço, com o leitão de Bairrada aportámos ao hotel em que Pina nos reservara assento bem a tempo para um aprazível café na esplanada do jardim Tomás Ribeiro, no Rossio, antes da nossa partida para o Solar do Vinho do Dão.
Não vale a pena dizer, a cada passo, quem reservou hotel, quem obteve a sala do Solar, quem escolheu os excelentes restaurantes e reservou as mesas, quem convidou os apresentadores, quem atraiu a assistência, quem nos guiou pelos museus e pela arte sacra da igreja de S. Francisco ou da Sé de Viseu. Foi o Pina. Foi tudo o Pina com o cunho de excelência, com o profissionalismo inexcedível de que ele tem o segredo.
No Solar do vinho do Dão fomos recebidos e acompanhados, com charme e simpatia, na sessão de apresentação e na prova de vinhos pela Drª Rita Barros .
A Sala estava cheia. As cadeiras da 1ª fila prudentemente, mas sem razão, deixadas vazias pela assistência foram compensadas por quem em pé, lá ao fundo, dispensou assento. Na mesa, comprida de dez lugares, os autores tinham o aspeto próprio de consagrados escritores e os apresentadores, julgando talvez ser para isso que os convidaram, garantiram a qualidade literária e o alcance histórico da obra com argumentação à prova do mais reticente ceticismo.
De acordo com o cânone falou em primeiro lugar o editor da Âncora, o Dr. António Baptista Lopes que revelou a importância cultural do livro, quão indispensável ele era na biblioteca de cada um dos presentes. O discurso foi bonito, que ele está muito treinado nestas andanças, não disse precisamente aquilo mas foi o que eu, aprovando, entendi. Falou em seguida em nome dos autores, o nosso anfitrião José Gomes de Pina que discorreu sobre o livro e a sua génese e agradeceu a participação dos presentes muito especialmente a pronta disponibilidade dos apresentadores do livro que, como viseenses ilustres, justamente enalteceu.
O primeiro a apresentar A FOTO foi o Coronel Fernando Figueiredo um conhecido e estimado militar de Viseu, atento à realidade da sua terra e do país bem refletida no seu blogue Viseu Senhora da Beira. A publicação aqui da sua intervenção, dois posts abaixo, dispensa-me de a referir mas não de sublinhar quanto a apreciámos. Com a sessão de apresentação, o jantar em comum e o convívio que proporcionaram, posso dizer sem errar, que ficou para nós um amigo.
Por último falou o ex-ministro da Saúde, Professor Doutor António Correia de Campos, cidadão ilustre de Viseu. Poderia referir a excelência do seu trabalho como ministro, ou a atividade que desenvolve a partir do Parlamento Europeu, ou a pedagogia cívica e política dos seus artigos de opinião com que melhora o jornal O Público mas tudo isso é bem conhecido e poderia ser tomado por retórica parcial. A sua intervenção cativou a todos como era de esperar de um político íntegro munido de sólida cultura.
 
O Jantar que se seguiu com uma boa parte da assistência e os nossos amigos que apresentaram o livro contou com a presença mas num outro grupo, do autarca mais conhecido da região, Fernando Ruas. Creio ter sido obra do acaso e não um preciosismo do anfitrião Gomes de Pina cioso em nos mostrar tudo, Viseu e as autoridades de Viseu. Uma referência especial tem de ir, no entanto, para a bela voz de Glória Paiva, uma fadista local que sabe cantar e animou o momento.
A manhã de Sábado - pela mão do Zé Pina, já se sabe - levou-nos ao bonito Parque da Cidade, muito limpo e bem arranjado, depois ao grande e belíssimo monumento que é a Sé de Viseu. Logo ali ao Lado esperava-nos o Museu Grão Vasco, já de todos conhecido, mas que voltámos a visitar com renovada curiosidade. A grande referência do museu é a obra de Vasco Fernandes – o Grão Vasco, grande mestre do sec. XVI, que está na origem da “escola de Viseu”  e a da sua oficina coletiva.
Fomos beneficiados na visita pelo profissionalismo da técnica do museu Hélia Cabido que com simpatia nos ia revelando pormenores ou sublinhando aspetos mais marcantes da obra de Vasco Fernandes ou de Gaspar Vaz. Revisitámos obras tão belas como «S. Pedro», «Pentecostes», «Anunciação», a «Ceia», os catorze painéis que engrandeciam a capela-mor da Sé, parte de um conjunto maior do qual os outros levaram sumiço. Não ficámos pelos mestres quinhentistas e apreciámos a pintura maneirista e naturalista do século XIX e XX, quadros de José Malhoa,  Columbano Bordalo Pinheiro ou Silva Porto.
Tantos séculos de pintura despertou-nos uma irresistível fome que não apanhou desprevenido o nosso infatigável Gomes de Pina que logo ali nos encaminhou para o restaurante Santa Luzia, uma referência na região que produziu o milagre de nos oferecer tais iguarias que jurámos arranjar novos e bons pretextos para lá voltar. A alta qualidade, informei-me, é garantida por dois irmãos, os donos do famoso restaurante, cujas esposas na cozinha dão vida à magia gastronómica.
 
Apaziguados os estômagos e rendidos às artes culinárias do Santa Luzia o Pina não nos deixou partir para Lisboa sem uma visita, mesmo que rápida, ao Museu do Quartzo – Centro de interpretação Galopim de Carvalho, no cimo do monte  de Stª Luzia que oferece do seu miradouro um bonita vista da cidade. O Museu recupera o espaço degradado pela exploração de quartzo iniciada há mais de quatro décadas. O museu para além de uma boa coleção de cristais de quartzo da exploração local está apetrechado de moderno equipamentos multimédia interativo que suscita um salutar apelo ao conhecimento da Geologia e até das entranhas do planeta terra. Disponibiliza também um laboratório, em sala ao lado, em que se podem testar as principais características do quartzo. O museu oferece visitas guiadas grátis a grupos de alunos mediante marcação e que constituirão sem dúvida uma experiência didática inesquecível.
 
No regresso a Lisboa dei por mim a meditar que, dada a excelência do que Viseu e a Beira oferecem não terá sido por acaso que o Pina terá escolhido o título de O BEIRÃO para a sua prestação no nosso livro.
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Nota: Só depois de publicado este post o Gomes de Pina me revelou que afinal o jantar que acima descrevo tinha outra génese era um jantar organizado pelos seus seus amigos e ex-colegas finalistas do liceu de 1959, que assim o quiseram surpreender. E a nós.

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Precedendo o lançamento do livro A FOTO em Viseu, na semana passada, o Jornal do Centro que se publica nesta cidade fez referência ao evento como podereis ver na imagem.

2013-02-18

O BEIRÃO em Viseu, no Solar do Vinho do Dão

O BEIRÃO é, como muitos já sabem, o nosso amigo José Gomes de Pina, co-autor do livro A FOTO que nesta 6ª feira, 15 de Fevereiro, de 2013 teve o seu lançamento em Viseu, nas instalações do Solar do Vinho do Dão. São dele as palavras que se seguem e então nos ofereceu, em representação dos autores, na cerimónia da apresentação do livro.   



Meus Caros Amigos
 
Em nome dos oito autores do livro “A FOTO e o Reencontro Meio Século Depois”, cabe-me, aqui em Viseu, na minha terra natal, o que me enche de orgulho e grande alegria, saudar todos os presentes, onde reconheço tantos amigos, colegas do Liceu e familiares, e dar-vos as boas-vindas nesta sessão de apresentação e divulgação do nosso livro, à semelhança, aliás, do que o Raimundo Narciso, a Teresa Tito de Morais e o Mário Lino já fizeram nas sessões realizadas anteriormente.
O livro foi editado em Junho de 2012 e a sessão de lançamento realizou-se em 11 de Junho no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, contando com as intervenções do Dr. Jorge Sampaio e do Reitor, Prof. Dr. Sampaio da Nóvoa.
A apresentação em Coimbra foi feita no dia 19 de Novembro, com a participação de Manuel Alegre e do Prof. Dr. José Manuel Pureza e no Porto, no dia 30, com intervenções do Dr. José Ilídio Ribeiro e do Prof. Dr. Augusto Santos Silva.
Agradecemos à Comissão Vitivinícola Regional do Vinho do Dão e ao seu Presidente Dr. Arlindo Cunha a disponibilidade e o apoio manifestados com a cedência do Solar do Vinho do Dão, situado no Parque do Fontelo, incluindo um Dão de Honra, a fazer jus ao vinho que tem levado Viseu e a sua região por esse mundo fora. Uma palavra de simpatia para a Dr.ª Graça Silva e à Dr.ª Rita Barros pela sua eficiente contribuição e empenho inexcedível na preparação desta sessão.
Renovar os nossos agradecimentos à Editora Âncora e ao Dr. António Baptista Lopes que desde o primeiro contacto nos acolheu com grande entusiasmo, incentivando a conclusão do livro e permitindo, com a sua publicação, a concretização do nosso projecto.
Aproveito também para agradecer ao Jornal do Centro, de quem sou, aliás, leitor habitual on-line, e a alguns blogues, como é o caso do Olho de Gato, O Viseu, Tribuna de Viseu e do Indo eu, Indo eu…, que além do VSB, também divulgaram o nosso convite. 

A apresentação do livro nesta sessão vai ser feita pelo Coronel Fernando Figueiredo e pelo Prof. Dr. António Correia de Campos, também eles ligados por fortes laços a Viseu e a quem os autores manifestam, desde já, o seu muito apreço e agradecimento.

Só acabei por conhecer pessoalmente o Coronel Fernando Figueiredo há relativamente pouco tempo, quando, finalmente, nos pudemos encontrar em Lisboa, após anos de contactos frequentes através do Viseu Senhora da Beira, em minha opinião, o blogue de referência em Viseu.
O autor propunha-se abrir “um olhar crítico, independente e exigente sobre as terras e gentes da região de Viriato” e, de facto o blogue VSB veio a constituir uma autentica pedrada no charco do marasmo da vida local, numa cidade do interior do país, tradicionalmente conservadora.
Tendo feito inicialmente comentários esporádicos noutros blogues de Viseu, acabei por encontrar neste blogue, campo para uma intervenção mais frequente, pelo que, quando comemorou os oito anos de existência, enviei este comentário:
“Meu caro Bazookas (durante muito tempo o autor do blogue, que se dava a conhecer por este pseudónimo, designando cada comentário por uma “bazookada”, constituía uma incógnita quanto à sua verdadeira identidade, desvendada somente, há cerca de três anos, quando este prestigiado militar o pôde legalmente fazer, após a sua passagem à reserva):
Não me tinha dado conta do tempo que já passou, afinal tanta água que foi correndo por baixo das pontes do Pavia... No meu primeiro comentário feito no seu blogue, em Março de 2005, dizia eu ao meu amigo:
...Realmente a minhas felicitações vão para quem teve a iniciativa de abrir um espaço onde, de certo modo, se vai expondo e provocando, julgo eu na pretensão de estimular o seu concidadão a discutir questões mais sérias e algumas outras só de simples actualidade. Mas também, e isso tocou-me, pelo seu demonstrado amor a Viseu, consciente e interventivo.
E aludindo à minha crescente intervenção no blogue, justificava-me, dizendo-lhe:
"...pois entendo ser também meu dever contribuir de forma honesta e interessada para o debate cívico. E o seu blogue, na maioria dos postes apresentados, cumpre bem esse objectivo, para além do debate se centrar nos grandes problemas de Viseu e assim podermos interagir com os nossos conterrâneos, na reflexão conjunta sobre algumas realidades, de que cada um, claro, terá a sua própria visão. Como pode ver, passados estes “breves” oito anos, o VSB cá está cumprindo o seu papel, alargando os horizontes do debate local, tradicionalmente fechado e pobre, trazendo à blogosfera local uma dinâmica diferente, mexendo com as pessoas, incomodando-as, desinibindo o diálogo, afoitando-as, dando-lhes oportunidade para uma abertura de espírito a que não estavam habituadas.
E isto o meu amigo foi fazendo, à custa de muito suor, por certo, que estas coisas não nascem feitas! Que grande “bazookada” o meu amigo deu nesta cidade...Como viseense, vivendo longe, o meu muito obrigado por tudo isto e que mantenha o ânimo e o empenho de sempre.
Um grande abraço do Beirão (é este o pseudónimo que utilizo)".

Ora quando as pessoas fazem amizade pelo que pensam e escrevem, concretizando na “blogosfera” esse entendimento, mesmo não se conhecendo pessoalmente durante tanto tempo, que mais posso dizer?... Direi somente que foram estas as razões que dei aos meus amigos autores para formularmos o convite ao Fernando Figueiredo, que eles não conheciam, para apresentar o nosso livro em Viseu, conjuntamente com o António Correia de Campos.
 
O Coronel de Infantaria na Reserva Fernando Figueiredo é licenciado pela Academia Militar com o Curso de Ciências Sócio Militares. Possui ainda vários cursos e estágios e uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos. Ao longo da sua carreira prestou serviço em diversas Unidades e Estabelecimentos do Exército, tendo desempenhado nos últimos anos, entre outras, as funções de Chefe de Repartição da Divisão de Pessoal do Estado Maior do Exército, de 2.º Comandante do RI 14, em Viseu e de Comandante do RI 3, em Beja.
Cumpriu missões internacionais, ao serviço da ONU, em Timor-Leste, como Comandante do 2.º BI/BLI e ao serviço da NATO, no Iraque, como National C2 Advisor no Centro de Operações Nacional, junto do 1º Ministro Iraquiano.
No foro civil, foi membro do Centro Distrital de Operações de Protecção Civil de Viseu e Guarda e do Núcleo Distrital do Projecto Vida de Viseu, Presidente e Fundador do Clube de Orientação de Viseu e membro dos Corpos Sociais da Federação de Andebol de Portugal. Formador em diversos cursos do CFP de Viseu, conferencista em diversas acções do Ensino Superior Universitário, é autor do blogue Viseu Senhora da Beira e colaborador regular do Jornal do Centro.
 
Concluo, lendo um excerto que retirei de um poste recente do Fernando no VSB, por certo um desabafo seu, por algum paralelo com atitudes que, noutros tempos e noutro contexto, também os autores da FOTO tiveram de tomar:
Dizia ele… “recordar que cabe às oposições, ontem como hoje, escrutinar o poder. Não há oposição sem escolher o “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”!
"…O cidadão, o viseense, deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se, de facto, as diferenças económicas e sociais estão diminuindo ou se, pelo contrário, quem nos governa apenas se governa a si próprio e aos seus!
Entretanto, sem uma oposição capaz de desmistificar tudo o que seja mera justificação publicitária do poder e de chamar a atenção para os valores fundamentais da sociedade democrática, só poderão ocorrer mudanças nas piores condições, isto é, quando o desespero das pessoas se transformar em coragem e acabar por incendiar este palheiro podre da partidocracia.
No mundo contemporâneo este caminho do escrutínio do poder começa finalmente a despertar na sociedade, através dos blogues, twitters e redes sociais, enfim, envolvendo um processo global.
E as oposições políticas, se nada tiverem a ver com as múltiplas demandas do quotidiano, como arranjarão forças para ganhar a sociedade? Não ganham, como é lógico, mas obrigam um coronel na reserva a ser activo na oposição… para mal dos meus pecados… "
 
O segundo apresentador do nosso Livro é o Prof. Dr. António Correia de Campos, ilustre viseense, meu particular amigo desde os tempos dos bancos da escola e do liceu, figura pública mais que reconhecida e que nos tem entrado frequentemente em casa, através da sua intervenção cívica, quer como ministro, deputado ou como comentador politico em muitos e interessantes debates televisivos.
Reconhecer-lhe as suas grandes qualidades humanas, de cidadão exemplar, profissional emérito, politico interventivo, não virando a cara na luta pelos seus princípios e ideais, amigo do seu amigo e ainda por cima beirão como eu, é para mim uma dupla satisfação e orgulho vê-lo aqui como apresentador do nosso livro.
 
Não posso também de deixar de vos ler o email que então dirigiu a mim e ao Mário Lino, a propósito da leitura que tinha acabado de fazer do livro A FOTO:
"Meus caros Zé Gomes de Pina e Mário Lino,  
Li o vosso livro integralmente, numa viagem a Chipre. Gostei imenso e por várias razões:
A proximidade com os meus sonhos, anseios e realizações, muito semelhantes aos vossos, naquelas idades, pelo menos, e creio que também agora.
A nossa origem social muito próxima: filhos de professores do ensino primário, de sargento e de pequeno comerciante, afinal a típica classe média em ascensão, na época.
A variedade de experiências de vida e a franqueza quase ingénua com que todos se desvendaram.
O sentido de fraternidade que perdura ainda nas vossas relações actuais.
Tinha o livro em cima da minha mesa quando tive um encontro de trabalho com uma técnica da nossa Representação Permanente que à saída me confessou ser filha do Eng. Rui Martins, também constante da foto, o que prolonga a rede para as gerações seguintes.
A qualidade literária da escrita, que atinge tons novelescos nos depoimentos do Letria e do Narciso, mantendo todos um alto nível, mesmo quando se preocuparam sobretudo com a descrição dos contextos.
Finalmente, a ideia de que a nossa juventude tinha causas e valores.
Como vedes, muitos elementos justificam o mérito da vossa iniciativa. Tenho pena de não conseguir inserir-me em uma semelhante.
Parabéns a todos e todas com natural permissão de circularem esta mensagem a quem entenderem. E obrigado ao Zé Pina pelo livro e dedicatória.
Abraço amigo / António Correia de Campos".

O António, filho varão do Professor David Campos (que felizmente já ultrapassou o centenário, continuando rijo e a tratar ainda da sua quinta em Figueiró), fez a sua instrução primária e grande parte do liceu em Viseu, tendo ido para Moçambique, no início do nosso sexto ano do liceu (1957), acompanhando a deslocação do seu agregado familiar (mas isso não impediu, quando comemorámos, em 2009, os 50 anos do nosso curso de finalistas do Liceu de Viseu (1952-1959), que estivesse presente, com grande satisfação, como um dos nossos, como pode ser testemunhado pelos muitos colegas aqui presentes).
Regressado à Metrópole, enquanto estudante universitário, empenhou-se activamente no movimento associativo estudantil, tendo sido membro da Direcção da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, donde foi expulso em 1962, na sequencia da crise académica e do processo da greve da fome. Transitou para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo chegado a ser eleito (em 1963) Presidente da Associação Académica, cargo que no entanto não viria a ser oficialmente homologado pelas autoridades académicas.
Licenciou-se em Direito, tendo feito uma especialização como Administrador Hospitalar na Escola de Rennes, em França (1969), um mestrado em Saúde Pública na Universidade de John Hopkins, nos EUA (1978) e o Doutoramento em Saúde Pública pela  Universidade Nova de Lisboa (1982).
Em 1975 foi escolhido para integrar o V Governo Provisório, desempenhando funções de Secretário de Estado do Abastecimento num período muito curto e em 1979 como Secretário de Estado da Saúde do V Governo Constitucional.
Aderiu em 1984 ao Partido Socialista, pelo qual foi eleito deputado à Assembleia da República em 1991, tendo presidido à Comissão do Livro Branco da Segurança Social entre 1997 e 1998.
Em 2001, foi nomeado Ministro da Saúde, por iniciativa do primeiro-ministro António Guterres, abandonando então o cargo de Presidente do Instituto Nacional de Administração, que ocupava desde Janeiro de 1997. Entre 2000 e 2001, foi Presidente do Conselho Científico do Instituto Europeu de Administração Publica, em Maastricht, na Holanda.
Após a demissão do governo, em Abril de 2002, Correia de Campos foi nomeado Presidente do Conselho Científico da Escola Nacional de Saúde Publica, da Universidade Nova de Lisboa, onde já era professor catedrático, tendo proferido a sua ultima lição em 13 de Abril de 2012.
De Março de 2005 a Janeiro de 2008 integrou o governo de José Sócrates, à frente do Ministério da Saúde. Presentemente é deputado ao Parlamento Europeu (desde Junho de 2009).
Especialista em Saúde, nomeadamente na ligação desta área com a Economia, Segurança Social e Administração Pública, é autor de vários livros e dezenas de artigos publicados na imprensa nacional e estrangeira.

Meus Caros Amigos

Agora quanto ao nosso livro. Repetindo um pouco o que já foi dito nas anteriores sessões, tudo começou por uma fotografia amarelecida pelo tempo que a Noémia, algures em 2010, encontrou no seu baú de recordações, foto tirada no Instituto Superior Técnico, seguramente no ano de 1963, viu-se depois, durante um jogo de futebol entre amigos, dezasseis rapazes e uma aguerrida claque de cinco bonitas jovens.
Sobre esta foto, há coisas que sabemos e outras que não sabemos, ou de que já não nos conseguimos recordar.  
Sabemos que dos vinte e um estudantes que estão nesta foto, doze rapazes  eram do Técnico (Albano Nunes, António Redol, Carlos Marum, João Resende, José Gameiro, já falecido, José Gomes de Pina, João Santos Marques, Luís Bénard da Costa, também já falecido, Mário Lino, Mário Neto, Raimundo Narciso e  Rui Martins), um da Faculdade de Ciências (Ernâni Pinto Basto), um da Faculdade de Medicina (Jaime Mendes) e dois do último ano dos liceus (Joaquim Letria e Fernando Rosas).
Quanto às raparigas, uma era da Faculdade de Ciências (Paula Mourão) e três do último ano dos liceus (Marília Morais, Noémia Simões, agora de Ariztía e Teresa Tito de Morais). Desconhecíamos quem era a quinta rapariga, precisamente a que, na foto, está no meio das outras, a quem, por graça e pelo mistério, passámos a designar por “Mata-Hari”. Mas desde o final do mês passado que uma pista dada por um amigo pode conduzir a uma hipótese credível de ser também uma estudante liceal da altura, colega das restantes. Como ainda não se acusou, lá teremos de a obrigar a confessar…
E também ainda não sabemos quem tirou a foto, nem qual foi o resultado do jogo.
Voltando à Noémia e à foto, como já não se lembrava de algumas caras ou desconhecia outras, digitalizou-a, enviando-a por email ao Jaime Mendes, que, pelas mesmas razões, a reenviou ao Raimundo Narciso. Analisada por ele, teve a ideia de procurar reunir, de novo, todos os que para ela posaram, com o objectivo de fazerem um balanço das suas vidas e de gozarem a alegria de se reencontrarem. Para isso distribuiu a foto, também por email, aos que não tinha perdido o rasto, a maioria dos quais frequentara, nessa época, uma tertúlia no café Pão de Açúcar, na Alameda Afonso Henriques, escrevendo:  
“…a fotografia dos colegas de 1963 sugeriu-me a ideia de fazermos um livro. Digam-me o que vos parece ideia tão insensata.” E propunha ainda “um livro escrito a tantas mãos quantas os que, entre nós, se atrevessem a tanto”, interrogando-se:
“Interessaria aos mais novos, à geração dos nossos filhos e netos, conhecer, através de vivências e percursos de vida tão díspares, uma ponta desse mundo tão próximo e tão ignorado?”
 
Tratavam-se, de facto, de amigos ou colegas, activistas dos movimentos associativos estudantis que desenvolviam uma luta muito determinada, no plano cultural e político, contra a ditadura salazarista. Vários deles exerciam ou vieram a exercer funções dirigentes nos respectivos órgãos associativos. Com excepção de quatro ou cinco, todos eram, ilegal e secretamente, militantes do Partido Comunista Português, alguns deles já com responsabilidades organizativas.

A comunicação por email parece ter sido o sinal de partida. Ao fim de algum tempo já tínhamos praticamente conseguido estabelecer comunicação entre todos e os primeiros contactados aderiram à ideia com entusiasmo. Uns, pela proposta do livro e outros, pela ideia do convívio que restabeleceria, nalguns casos, pontes de anos ou de dezenas de anos entre vidas desencontradas, onde a política, a luta contra o regime, a clandestinidade, as prisões, os exílios e percursos por quatro continentes, a própria actividade profissional e a luta pela vida, tinham fraccionado o grupo daqueles jovens em múltiplas bolsas de amizades."
Estava lançado o desafio e em marcha, finalmente, o projecto do livro!
O primeiro encontro deu-se, em Abril de 2010, na casa de campo do Jaime e da Teresa, perto de Santarém. Compareceram doze ex-jovens, incluindo maridos e mulheres, todos com a cabeça ainda fresca e levantada. Trouxeram vinhos e sobremesas, conversaram, comeram e beberam, enchendo a casa de alegria.
Alguns já não se viam há quase meio século, sabíamos uns dos outros pelas notícias, poucos mantinham relações próximas. Mas parecia que o tempo não tinha passado por nós. O sentimento reinante foi de uma imediata e grande cumplicidade. Marcados por experiências diversas, permanecíamos unidos por aquilo que nos tinha juntado antes, a luta por um país melhor, com liberdade e democracia.

Ao longo de quase dois anos seguiram-se outros encontros, na tentativa de planearmos o livro, escolher o título, o formato, o número de páginas, os currículos e as fotos a incluir, etc., mobilizar vontades para a escrita, marcar objectivos, datas e acompanhar a sua evolução.
Por razões várias, apenas oito acabaram por participar como autores do livro A FOTO.
 
Nele revisitámos meio século das nossas vidas, encontros e desencontros, amizades e alheamentos, trajectos que não se cruzaram, amores, casamentos, compromissos, roturas, dú­vidas, actividade politica e profissional, vidas não coincidentes.
É, portanto, um livro de memórias, de uma geração em que muitos se bateram pelos valores da liberdade, do progresso, da justiça social, e que continuam unidos para que estes valores não se percam, antes se consolidem e aprofundem.
Mas estamos convencidos que a ética e os valores que defendemos permanecem actuais e universais, e que hoje, tal como ontem, as novas gerações também determinarão o seu próprio caminho, encontrando a melhor forma de se organizar em sociedades livres, justas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas.
 
Um Bem-Haja a todos.