A FOTO


2013-04-29

A última tomada de Beja

 
Fomos a Beja. A cidade foi fundada pelos Celtas 400 anos a.c.. Depois os romanos tomaram conta dela. E do resto da península. Chamaram-lhe Pax Julia. A seguir vieram os Mouros que estadeavam por perto, por Marrocos e eram senhores da Andaluzia e outras partes sulenhas da Ibéria.

Por último fomos lá nós, os portugueses, ainda pouco portugueses, ora sob as ordens do rei Afonso ora do rei Sancho seu filho ou das Ordens militares que no fundo era o mesmo ou no fio da espada de aventureiros de vender a alma ao diabo, como o Geraldo, o Sem Pavor. Geraldo e o seu bando tomou a cidade aos muçulmanos, pilhou-a, incendiou-a, derrubou as muralhas e abandonou-a em seguida, em 1162. Ao que parece, se não é confusão de data de gente que não passava ao papel as suas façanhas, voltou a fazer o mesmo dez anos depois.
Ora nossa ora deles Beja esteve na mão do Lidador, o valente cavaleiro Gonçalo Mendes da Maia, nomeado fronteiro-mor de Beja por Afonso Henriques. Em 1170, Mendes da Maia quis festejar o seu 95º aniversário com uma surtida contra os mouros e nela morreu. Mais lenda menos lenda ficou herói de Beja e tem lá uma estátua de 5 metros de altura que bem merece. Os Almóadas que escolheram Sevilha para sede do seu poder recuperaram-na em 1175. Umas vezes na mão do Califa outras na do rei de Portugal Beja, Pax Julia ou Baju, como os sarracenos lhe chamavam, acabou portuguesa.
Decidimos ir a Beja neste domingo, 28 de Abril de 2013 para ver em que pé estavam as coisas. Partimos cedinho e o pretexto para a nossa surtida era a apresentação do livro A FOTO, a lusitanos ou mouros no caso de alguma investida destes feita de surpresa. Partimos bem artilhados em potente cavalaria (cavalos/vapor?) das melhores raças: BMW, Ford, Peugeot, Honda.
À hora combinada, à entrada da OVIBEJA lá nos encontrámos todos os oito autores com os seus maridos ou mulheres, e também alguns filhos, noras e amigos. A cidade apresentava-se em festa e sem sinais de escaramuças. O ambiente era apenas ensombrado pelas núvens negras do poder central na mão de um almóada, um tal Passos Coelho, escudeiro do Kalifado sarraceno-prussiano de Berlim.
A Feira estava portentosa. Pavilhões com tudo o que se pode esperar que esteja numa feira. E, por todo o lado comida, acepipes, doces, vinhos. Ao que me garantiram a OVIBEJA já supera a célebre feira de Santarém. Esperava-nos o Dr. António Sancho (lá está, Sancho! , como no século XII ) director da excelente revista MAIS ALENTEJO que foi o apresentador do livro no auditório da feira. A sessão teve início às 11h (pontualidade à portuguesa!) e aberta pelo nosso editor da Âncora e amigo António Baptista Lopes que não se furtou a vender livros mal a sessão terminou. Seguiu-se-lhe na palavra António Sancho que foi rigoroso e conciso e por fim, em representação dos autores falou Noémia de Aríztia e fê-lo com tal proficiência e desempenho que viu recompensada a sua excelsa intervenção com uma demorada salva de palmas. Com tão buriladas palavras antevi uma corrida ao livro.
Na sala estava também o nosso anfitrião na qualidade de responsável pela feira e pelo auditório, Lopes Guerreiro, que é também candidato à Câmara Municipal de Beja com o estatuto, cada vez mais apertecível, de independente. O Jaime Mendes e eu encontrámos um velho amigo que não víamos há muito, o médico Dr.Agostinho Moleiro um homem da terra. Jaime Mendes não o via desde as campanhas de dinamização da saúde do saudoso PREC e eu desde os tempos em que ambos experimentámos a Assembleia da República no consulado de Guterres.

A nossa apresentação teve ainda a presença de gentes longínquas. Como já é habitual tivemos o previlégio da presença do pintor chileno Francisco Ariztia que teve a astúcia e o bom gosto de casar com a Noémia. Connosco também uma luso-neerlandesa, a nossa querida amiga Isabel Galacho e ainda uma simpática e também já querida amiga, argentina, a Carina Yoncheff, até nós trazida pela activista de todas as causas boas Ana Sá Gomes Pena.

Com tanta internacionalização demos um cunho cosmopolita à feira que foi, espero eu, muito notada em toda a cidade. Um ponto alto do nosso avanço sobre a capital do Baixo-Alentejo foi o almoço, um momento de profunda introspecção ajudado por bom vinho e adequadas sobremesas e muitas anedotas “chistes” e outras picardias.

O mérito desta sortida ao Alentejo profundo cabe todo ao autor mais famoso do nosso livro o grande artista da palavra e grande jornalista Joaquim Letria (disputa a afama com outro autor o ex-super-ministro Mário Lino e sua esposa, a Paula Mourão porque atrás de um grande homem quem é que está sempre? Uma grande mulher. Vejam os Obamas, por exemplo) Pois os responsáveis por esta reconquista de Beja aos Almóadas são o Joaquim Letria ou talvez mais ainda a sua mulher, a Berta, especialista em assuntos aeronáuticos, que o conduziu pontualmente à antiga Pax Julia.

A organização geral do evento foi propositadamente caótica. Mas um caos meticulosamente organizado para que tudo parecesse que ia correr mal mas afinal tudo corria bem como realmente sucedeu. Creio que houve a preocupação de mostrar que “há muitas formas de matar pulgas”e de mostrar a diferença com Viseu onde o autor Gomes de Pina tinha revelado a que alturas inimagináveis era possível elevar a organização logística rigorosa de um complicado evento.
Uma presença incontornável pela simpatia irradiante que empresta a estes nosos filosóficos empreendimentos e que não posso omitir nesta notícia foi a da Teresa Tito de Morais que se vê na mesa sempre a meu lado em todas as apresentações que realizámos. Como a ordem na mesa é alfabética dizem que é por isso que fica sempre a meu lado mas eu estou certo que é para me demonstrar a sua amizade. Por fim queria referir a autora Maria Machado que não sendo autora do livro é autora de algumas das mais belas fotografias destas sessões.
 
Pax Julia, Buja, Beja.


 

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