José Gomes de Pina, Noémia de Ariztia, Paula Correia, Raimundo Narciso,Teresa Tito de Morais, António Baptita Lopes, Augusto Santos Silva, Mário Lino e José Ilídio Ribeiro
Caros amigos
Em nome dos oito aurores do livro “A
FOTO e o Reencontro Meio Século Depois”, cabe-me dizer algumas palavras
nesta sessão de apresentação no Porto, tal como o Raimundo Narciso e a Teresa
Tito de Morais já o fizeram nas sessões realizadas, respectivamente, em Lisboa,
no dia 11 de Junho, e em Coimbra no dia 19 de Novembro.
Gostaria de começar por saudar todos os presentes que
aceitaram o nosso convite para participar nesta sessão, dizendo-lhes que muito
nos sensibiliza o facto de partilharem connosco a alegria e a satisfação que
temos na apresentação e divulgação do nosso livro.Gostaria, também, de agradecer à Câmara Municipal do Porto, a disponibilidade e apoio manifestados com a cedência destas instalações para a realização desta sessão de apresentação.
Gostaria, ainda, de agradecer à Editora Âncora e ao Dr. António Baptista Lopes o entusiasmo e empenho com que sempre nos apoiaram na concretização deste projecto.
Uma palavra de particular destaque e apreço é devida
ao Prof. Dr. Augusto Santos Silva e ao Dr. José Ilídio Ribeiro que irão
apresentar o nosso livro.
O José Ilídio Ribeiro foi estudante universitário da
Faculdade de Medicina do Porto, quando nós éramos também estudantes
universitários ou dos últimos anos do Liceu em Lisboa, tendo terminado o seu
curso em 1967. Como nós, também se envolveu nas lutas estudantis dos anos
sessenta. Em 1969 foi incorporado como médico militar, tendo sido mobilizado
pera a guerra colonial em Angola, em Outubro desse ano, donde regressou em
Outubro de 1971. Em 1973 e 1974 fez parte da Direcção Regional Norte da Ordem
dos Médicos. Depois de concluir o internato em 1975, ingressou no Hospital
Eduardo Santos Silva, agora Centro Hospitalar de Vila
Nova de Gaia, onde exerceu sempre funções.
Em resultado da sua reconhecida competência e
dedicação profissional, exerceu diversas responsabilidades hospitalares, tendo,
em 1996, sido eleito pelo Corpo Clínico daquele Centro Hospitalar para seu
Director Clínico, cargo que manteve até se reformar em 2002.
Contrariamente a alguns dos autores do livro que
apenas deram uns toques na bola quando eram estudantes (provavelmente mais para
se armarem em desportistas à frente das namoradas), o José Ilídio Ribeiro foi
um desportista com provas dadas e créditos firmados, tendo defendido a equipa
dos médicos nas modalidades de andebol, basquetebol e futebol, e sido atleta
federado de andebol, Presidente da Associação de Andebol do Porto e dirigente
do Futebol Clube da Maia.
O Augusto Santos Silva é de uma geração posterior:
começou a frequentar a Faculdade de Letras do Porto em 1973, tendo-se licenciado
em História em 1978, e depois, em 1992, doutorado em Sociologia da Cultura e da
Educação pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.
Enquanto estudante universitário, empenhou-se
activamente no movimento associativo estudantil, tendo sido membro da Direcção
da Associação dos Estudantes da Faculdade de Letras do Porto em 1977, portanto
já depois da Revolução de Abril.É docente da Faculdade de Economia do Porto desde 1981, actualmente com a categoria de Professor Catedrático. Em 1998/1999, foi Pró-Reitor da Universidade do Porto e Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Economia do Porto. A par da sua actividade enquanto docente, tem desenvolvido outras relevantes actividades de intervenção cívica, designadamente nos domínios da política, da educação e da cultura, e enquanto colunista e cronista de comunicação social.
No que se refere, em particular, à sua actividade política, integrou diversos órgãos do Partido Socialista, tanto a nível do distrito do Porto como a nível nacional; foi eleito, por diversas vezes, deputado à Assembleia da República pelo círculo eleitoral do Porto; e exerceu funções governativas em três Governos Constitucionais, designadamente como Secretário de Estado da Administração Educativa, Ministro da Educação, Ministro da Cultura, Ministro dos Assuntos Parlamentares e Ministro da Defesa.
Conheci pessoalmente e convivi muito intensamente com
o Augusto Santos Silva quando ele era Ministro dos Assuntos Parlamentares,
durante os 4 anos e meio que integrámos o XVII Governo Constitucional, entre 2005
e 2009, tendo beneficiado muito da sua experiência política, governativa e parlamentar,
guardando desse convívio recordações muito gratas.
Quero deixar uma saudação muito amiga ao José Ilídio
Ribeiro e ao Augusto Santos Silva que muito nos honraram com a sua
disponibilidade para fazer a apresentação do nosso livro nesta sessão, e aos
quais queremos, pública e muito reconhecidamente, agradecer.
Meus caros amigos
Em Março de 1963, um grupo de 21 estudantes pousou
para a foto que está reproduzida na
capa do livro, tirada no campo de futebol da Associação dos Estudantes do Instituto
Superior Técnico, em Lisboa.
Sobre esta foto,
há coisas que sabemos e coisas que não sabemos, ou de que já não nos recordamos.
Sabemos que são 21 estudantes que estão nesta foto, 16 rapazes e 5 raparigas. 12 dos
rapazes eram do Técnico (Albano Nunes, António
Redol, Carlos Marum, João Resende, José Gameiro, já falecido, José Gomes de
Pina, João Santos Marques, Luís Bénard da Costa, também já falecido, Mário
Lino, Mário Neto, Raimundo Narciso e Rui
Martins), 1 da Faculdade de Ciências de Lisboa (Ernâni Pinto Basto), 1 da
Faculdade de Medicina de Lisboa (Jaime Mendes) e 2 do último ano dos liceus (Joaquim
Letria e Fernando Rosas).
Quanto às raparigas, 1 era da Faculdade de Ciências de
Lisboa (Paula Mourão) e 3 do último ano dos liceus (Marília Morais, Noémia
Simões, agora de Ariztía e Teresa Tito de Morais). Desconhecemos quem é a
quinta rapariga, precisamente a que, na foto,
está no meio das 5.
Também não sabemos quem tirou a foto.
10 dos rapazes estavam equipados para o jogo de
futebol que se seguiu à foto. Um dos
rapazes, o João Santos Marques que está de apito na mão, fez de árbitro. Os
outros 5 rapazes e as 5 raparigas constituíam a claque, mas desconhecemos qual
foi o resultado do jogo.
Também sabemos porque estavam juntos: eram amigos, activistas
dos movimentos associativos estudantis que desenvolviam uma luta muito
determinada, no plano cultural e político, contra a ditadura salazarista.
Vários deles exerciam ou vieram a exercer funções dirigentes nos respectivos
órgãos associativos. Com excepção de quatro ou cinco, todos eram, ilegal e
secretamente, militantes do Partido Comunista Português, alguns deles já com
responsabilidades organizativas.
Nos anos que se seguiram a este encontro de futebol,
os estudantes de todo o País sofreram sucessivas e violentas vagas repressivas.
Do grupo da foto, em momentos
diferentes:
·
Foram expulsos da
universidade, Ernâni Pinto Bastos (15 dias da Faculdade de Ciências de Lisboa)
e Mário Lino (2 anos de todas as universidades do País).
·
Foram presos pela
PIDE, Carlos Marum, Fernando Rosas, João Resende, João Santos Marques, Mário
Lino, Mário Neto e Teresa Tito de Morais.
·
Sofreram o exílio, Jaime Mendes, Carlos Marum
e Noémia de Ariztía.
·
Passaram a viver
na clandestinidade em Portugal, para combater a ditadura, Albano Nunes, João
Resende, João Santos Marques e Raimundo Narciso.
Decorridos quase 50 anos, quando, um dia, no início de
Janeiro de 2010, a Noémia de Ariztía estava a fazer arrumações em sua casa,
deparou-se com uma velha caixa de lápis de cor que continha, entre outras
relíquias, aquela foto tirada em
Março de 1963. A descoberta trouxe-lhe à memória acontecimentos há muito
passados e uma grande vontade de saber o que tinha entretanto acontecido
aqueles amigos. Digitalizou a foto e
enviou-a por mail ao Jaime Mendes, com quem mantinha contacto, para ver o que é
que ele sabia. O Jaime, por seu turno, reenviou a foto ao Raimundo Narciso que teve a ideia de procurar reunir, de
novo, todos os que para ela posaram, com o objectivo de fazerem um balanço das
suas vidas e de gozarem a alegria de se reencontrarem. Para isso distribuiu a foto, por mail, aos que não tinha perdido
o rasto, escrevendo:
«[…] A fotografia dos colegas de 1963
sugeriu-me a ideia de fazermos um livro. Vai tudo explicado no ficheiro anexo.
Digam-me o que vos parece ideia tão insensata».
O anexo do e-mail
era um texto longo a rebuscar mil e uma razões que tornasse aliciante a
proposta ou, pelo menos, que evitasse que a considerássemos uma proposta tola. O
Raimundo Narciso propunha «um livro
escrito a tantas mãos quantos os que, entre nós, se atrevessem a tanto», e
interrogava-se: «Interessaria aos mais
novos, à geração dos nossos filhos e netos, conhecer, através de vivências e
percursos de vida tão díspares, uma ponta desse mundo tão próximo e tão
ignorado?».
Os primeiros
contactados aderiram à ideia com entusiasmo. Uns, pela proposta do livro e
outros, pela ideia do convívio que restabeleceria, nalguns casos, pontes de
anos ou de dezenas de anos entre vidas desencontradas.
A mensagem electrónica foi, pois, o sinal. Muitas
outras refizeram os contactos e as amizades perdidas em quase meio século de
viagem, em que alguns ficaram pelo caminho. A política, a luta contra o regime
fascista, as prisões, a clandestinidade, os exílios, percursos por quatro
continentes, a actividade profissional, a luta pela vida, encontros e desencontros,
fraccionaram o grupo daqueles jovens em múltiplas bolsas de amizades.
Ao fim de algum tempo já tínhamos estabelecido
contacto entre todos. Seguiram-se, ao longo de quase dois anos, diversos
almoços de convívio em casa de vários dos participantes na foto, para planearmos o livro e acompanharmos a evolução da sua
escrita.
Por razões
várias, apenas oito dos estudantes presentes na foto acabaram por
concretizar este projecto.
O livro foi editado em Junho de 2012. A sessão de
lançamento realizou-se no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, contando
com as intervenções do Dr. Jorge Sampaio que apresentou o livro, e do Reitor, Prof.
Dr. Sampaio da Nóvoa.
Neste livro, "revisitámos meio século das nossas vidas,
encontros e desencontros, amizades e alheamentos, trajectos que não se
cruzaram, amores, casamentos, compromissos, roturas, dúvidas, vidas não
coincidentes." É, portanto, um livro de memórias de uma geração em que muitos se
bateram pelos valores da liberdade, do progresso, da justiça social, e que
continuam unidos para que estes valores não se percam, mas antes se consolidem
e aprofundem.
Estamos num tempo em que muitas das conquistas sociais,
tardiamente conquistadas em Portugal após o 25 de Abril de 1974, e na Europa
desde o fim da Segunda Guerra Mundial, estão a ser fortemente atacadas pela
especulação dos mercados financeiros internacionais, e em que estamos
confrontados com a tibieza e inadequação das respostas que a UE vai,
penosamente, engendrando, e com a austeridade ideológica e letal com que o
Governo vai sufocando o País.
Por outro lado, enfrentamos hoje, em Portugal, na Europa e
no Mundo, novas lutas e desafios, e novas bandeiras se levantam.
Mas estamos firmemente convictos que a ética e os valores
que defendemos se mantêm actuais e universais, e que hoje, tal como ontem, as
novas gerações farão o seu caminho e encontrarão a melhor forma de se
organizarem em sociedades mais livres, democráticas, sustentavelmente
desenvolvidas e justas.
E mais não digo, convidando-vos apenas a ler o nosso livro.
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