A FOTO


2013-04-08

A FOTO em Vila Franca de Xira

No Sábado 6 de Abril, a partir das 16 horas, no Museu do Neorealismo, ocorreu a apresentação do livro A FOTO, em Vila Franca de Xira, por António Redol e José Medeiros Ferreira com a presença da Presidente da CM Maria da Luz Rosinha. Em nome dos autores falou Jaime Mendes cuja intervenção se apresenta a seguir.
 
Na mesa: Joaquim Letria, Gomes de Pina, Mário Lino, António Redol, Medeiros Ferreira, Maria da Luz Rosinha, Jaime Mendes, António Baptista Lopes, Paula Mourão, Raimundo Narciso, Noémia Aríztia e Teresa Tito de Morais Mendes. 
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Jaime Mendes: "Cabe-me a mim, o privilégio de falar em nome dos 8 autores, já conhecidos pela “malta do livro”. Depois do grupo ter sido tão bem representado pelo Raimundo, no Salão Nobre da Reitoria em Lisboa, imaginem que para o evento até pôs uma gravata, pudera ficou sentado entre o magnifico reitor e o nosso Presidente Jorge Sampaio, que apresentou “a obra”, num lindo salão repleto de amigos e curiosos, com a contribuição artística de Carlos Mendes.
A seguir foi a Teresa, em Coimbra, na Casa Municipal da Cultura, acompanhada de 2 amigos José Manuel Pureza e Manuel Alegre que tiveram a ingrata tarefa de travestir um livro de memórias num livro histórico, chegando até a sugerir que se realizasse um filme. Bem – Hajam.
É a primeira vez que uso tal expressão, o meu pai, maçon e anti clerical ensinara-me que era uma saudação carregada de conservadorismo, com cheiro a sacristia, mas desde que ouvi o secretário-geral do Partido Comunista a finalizar assim o seu discurso, na Comemoração do Centenário de Álvaro Cunhal, talvez o meu pai estivesse errado.
A cidade invicta, não podia ficar para trás até porque parte das minhas memórias escritas passam-se lá. A tarefa de nos representar desta vez coube ao Mário Lino, que o fez no Palacete dos Viscondes de Balsemão, com toda a segurança; pois o Porto está na margem norte do Tejo.
E a apresentação esteve a cargo de Augusto Santos Silva e do médico maiato José Ilídio Ribeiro.
A última apresentação do livro, organizada de maneira magistral pelo Gomes de Pina, o Beirão, no lindo Solar do Vinho do Dão, que foi o nosso porta-voz, tendo convidado, dois beirões, regionalismos à parte, para falarem: o Coronel Fernando Figueiredo e Correia de Campos.
Mas estes eventos só foram um sucesso devido ao profissionalismo do Editor da Âncora, António Baptista Lopes.
Esta editora faz-me lembrar uma história real passada com um escritor norte  americano que como os seus livros não se vendiam, mudou para outra mais agressiva que lhe preparou apresentações em todas as terrinhas do país. A meio das apresentações normalmente em livrarias das cidades, com uma frequência de 10 a 15 velhotes, desistiu. Qual não foi o seu espanto quando ganhou o prémio Pulitzer nesse ano. Moral da história; um dos velhotes era pai de um dos membros do Júri do referido prémio.
Vou, então, executar tão ciclópica tarefa de representar os demais autores, com a responsabilidade acrescida de ser no museu do neo-realismo, que desde já agradeço a cedência do espaço, na pessoa de António Redol.
Nós, somos a geração que veio imediatamente a seguir, direi mesmo que quase todos nós, jovens comunistas, aprendemos a ler com Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca e Alves Redol.
“Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro” dizia Soeiro nos Esteiros.
Para vocês, fangueiros dos campos da Golegã, escrevi este livro. Que algum dia o possam ler e rectificar – porque o romance da vossa vida só vocês o saberão escrever.” Escreve Alves Redol em Fanga.
Homens como estes morrem sempre cedo demais. As vidas esfumam-se quando ainda têm uma infinidade de coisas a ver e a dizer. A única compensação que existe para este destino é a continuação pelas gerações mais novas a quem transmitiram o testemunho.
Foi este desafio que o nosso anfitrião tomou em suas mãos com esta obra; o museu do neorrealismo, que só podia ser em Vila Franca de Xira, a terra de onde partiam os barcos dos célebres passeios do Tejo.
Já tinha ouvido falar de António Redol, por familiares deste, antes de o conhecer. Convivi com ele durante a greve estudantil de 62, onde ele actuava na Secção de Propaganda da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico. O Técnico tinha a Associação melhor estruturada da Academia de Lisboa e exerceu um papel preponderante na greve, por outro lado, o trabalho das secções de propaganda foi importantíssimo, com comunicados a saírem diariamente e distribuídos por todas as faculdades de Lisboa, durante meses. O que foi uma verdadeira dor de cabeça para a PIDE que nunca conseguiu localizar as impressoras, na altura offsetes.
António esteve ligado a esta secção, até ao ano lectivo de 63/64. Como se pode comprovar pela FOTO do livro em que pousa para a fotografia com um exemplar de um jornal acabado de sair, e foi presidente da Associação em 1965/1966, curiosamente um ano depois de Mário Lino, um dos autores do livro.
Foi também da direção do cineclube universitário, organismo circum-escolar, como se designava na época. Esta organização, teve um papel fundamental na formação das consciências estudantis na luta contra o fascismo.
Formou-se em engenharia química e trabalhou na EDP.
É um dos estudantes presente na já célebre fotografia do Livro. Apesar de ter participado no primeiro convívio na nossa casa em Santarém, declarou-se logo impossibilitado de colaborar devido ao trabalho em que estava e está empenhado no museu do neorrealismo.
Medeiros Ferreira, é outro dos apresentadores do livro e também meu amigo de longa data.
Outro dia, a mulher Maria Emília Brederote, pediu-me amizade no facebook , coisas que acontecem frequentemente nas redes sociais.
A minha amizade com o casal tem no mínimo cinquenta anos. O José Medeiros Ferreira foi um dos grandes dirigentes estudantis, até à sua expulsão de todas as universidades do país, durante 3 anos. Tendo também como alguns de nós sofrido a prisão e o exílio. Era assim o fascismo. Distinguiu-se no ano de 62, pela sua facilidade oratória e pelo forte sotaque micaelense, que o meu saudoso irmão Abílio, imitava na perfeição.
Não vou falar do seu extenso currículo, como politico e universitário, senão ficaríamos aqui toda a tarde. Trajecto por todos conhecido, deputado à Assembleia Constituinte, secretário de estado, ministro dos negócios estrangeiros, professor universitário, comentador e benfiquista.
Seguimos caminhos paralelos, mas julgo que este facto, em nada enfraqueceu a nossa amizade. Exilados na Suíça, nos mesmos anos, separavam-nos cerca de sessenta quilómetros, ele em Genebra e eu em Lausanne e diga-se em abono da verdade também atitudes políticas diferentes dentro do combate ao fascismo. Contudo, encontrámo-nos algumas vezes e em comum tivemos a vontade firme de regressar a Portugal, como única opção.
No regresso, ambos sofremos alguns entraves na realização da vida profissional, como sempre aconteceu neste país com os estrangeirados, desde Luís António Verney, no seculo XVIII.
Aos dois agradeço o terem aceite o convite para apresentarem o nosso livro.
Em todas estas sessões os colegas que me precederam, falam de como surgiu a ideia de escrever o livro, a tantas mãos, quantas as possíveis, mas eu não me vou alongar sobre este tema.
À duvida do que fazia um estudante de medicina no Técnico, a resposta é simples os meus pais moravam na Alameda Afonso Henriques.
Como um bom vendedor aconselho-vos a comprar o livro e para matarem a curiosidade leiam a Introdução: De uma foto, em 1963, a um livro, em 2012. O título diz tudo.
Abro aqui um parêntesis, para vos contar uma história lisboeta: Era hábito nos meses de Junho/Julho, época de exames ouvirmos um foguetório na Alameda o que correspondia a mais um engenheiro que se formava e por cada ano passado no Instituto lançava-se um foguete. Passados muitos anos, regressado da Suíça fui morar para as Olaias e todos os fins de mês era um foguetório pegado, fiquei curioso e perguntei se os exames finais podiam ser todos os meses do ano. Foi quando para meu espanto me explicaram que os foguetes vinham de Chelas e serviam para anunciar a chegada da droga. 
Fechando parêntesis, vou dar-vos uma novidade em primeiríssima mão, a nº 6 da foto, a rapariga que ficou registada no livro, por não identificada, e lhe apelidaram maldosamente de Mata Hari, já é conhecida, tinha-se remetido ao silêncio, tal freira carmelita, mas foi traída e identificada. Surpresa ou não, é uma grande amiga também como a todos os outros, separada pelas estradas da vida.
Os segredos neste país são difíceis de guardar. Faz-me lembrar um amigo brasileiro, infelizmente já falecido, que viveu em Portugal durante o PREC, período em que as notícias sigilosas chegavam a ser várias por dia e contraditórias, dizia na sua graça habitual quando lhe pediam segredo: - Está tranquilo, cara, essa fica entre nós e o povo.
Só nos falta descobrir quem foi o fotógrafo, a minha teoria é que era uma máquina de disparo automático. Garanto que já existiam há cinquenta anos.
 Last but not least o livro é acompanhado de um marcador, cópia de um mural pintado no largo do Calvário pelo nosso querido amigo Francisco Ariztia, em 1975.
Para quem não saiba o Pancho é casado com a Noémia de Ariztia, née Simões.
O livro se não serviu para mais nada, valeu por ter trazido ao convívio, os amigos afastados pelos caminhos dispersos.
Para gozo de todos nós, os encontros continuam, a pretexto de mais um lançamento do livro especialmente acompanhado de arroz de polvo, chanfana, cozido à beirão ou dum sável com açorda.

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