No Sábado 6 de Abril, a partir das 16 horas, no Museu do Neorealismo, ocorreu a apresentação do livro A FOTO, em Vila Franca de Xira, por António Redol e José Medeiros Ferreira com a presença da Presidente da CM Maria da Luz Rosinha. Em nome dos autores falou Jaime Mendes cuja intervenção se apresenta a seguir.
Na mesa: Joaquim Letria, Gomes de Pina, Mário Lino, António Redol, Medeiros Ferreira, Maria da Luz Rosinha, Jaime Mendes, António Baptista Lopes, Paula Mourão, Raimundo Narciso, Noémia Aríztia e Teresa Tito de Morais Mendes.
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Jaime Mendes: "Cabe-me a mim, o
privilégio de falar em nome dos 8 autores, já conhecidos pela “malta do livro”.
Depois do grupo ter sido tão bem representado pelo Raimundo, no Salão Nobre da
Reitoria em Lisboa, imaginem que para o evento até pôs uma gravata, pudera
ficou sentado entre o magnifico reitor e o nosso Presidente Jorge Sampaio, que
apresentou “a obra”, num lindo salão repleto de amigos e curiosos, com a
contribuição artística de Carlos Mendes.
A seguir foi a
Teresa, em Coimbra, na Casa Municipal da Cultura, acompanhada de 2 amigos José
Manuel Pureza e Manuel Alegre que tiveram a ingrata tarefa de travestir um
livro de memórias num livro histórico, chegando até a sugerir que se realizasse
um filme. Bem – Hajam.
É a primeira vez
que uso tal expressão, o meu pai, maçon e anti clerical ensinara-me que era uma
saudação carregada de conservadorismo, com cheiro a sacristia, mas desde que
ouvi o secretário-geral do Partido Comunista a finalizar assim o seu discurso,
na Comemoração do Centenário de Álvaro Cunhal, talvez o meu pai estivesse
errado.
A cidade invicta,
não podia ficar para trás até porque parte das minhas memórias escritas
passam-se lá. A tarefa de nos representar desta vez coube ao Mário Lino, que o
fez no Palacete dos Viscondes de Balsemão, com toda a segurança; pois o Porto
está na margem norte do Tejo.
E a apresentação
esteve a cargo de Augusto Santos Silva e do médico maiato José Ilídio Ribeiro.
A última apresentação
do livro, organizada de maneira magistral pelo Gomes de Pina, o Beirão, no
lindo Solar do Vinho do Dão, que foi o nosso porta-voz, tendo convidado, dois
beirões, regionalismos à parte, para falarem: o Coronel Fernando Figueiredo e
Correia de Campos.
Mas estes eventos
só foram um sucesso devido ao profissionalismo do Editor da Âncora, António
Baptista Lopes.
Esta editora faz-me
lembrar uma história real passada com um escritor norte americano que como os seus livros não se
vendiam, mudou para outra mais agressiva que lhe preparou apresentações em
todas as terrinhas do país. A meio das apresentações normalmente em livrarias
das cidades, com uma frequência de 10 a 15 velhotes, desistiu. Qual não foi o
seu espanto quando ganhou o prémio Pulitzer nesse ano. Moral da história; um
dos velhotes era pai de um dos membros do Júri do referido prémio.
Vou, então,
executar tão ciclópica tarefa de representar os demais autores, com a responsabilidade
acrescida de ser no museu do neo-realismo, que desde já agradeço a cedência do
espaço, na pessoa de António Redol.
Nós, somos a
geração que veio imediatamente a seguir, direi mesmo que quase todos nós,
jovens comunistas, aprendemos a ler com Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca
e Alves Redol.
“Para os filhos dos homens que nunca foram meninos,
escrevi este livro”
dizia Soeiro nos Esteiros.
“Para vocês, fangueiros dos campos da
Golegã, escrevi este livro. Que algum dia o possam ler e rectificar – porque o
romance da vossa vida só vocês o saberão escrever.” Escreve Alves Redol em
Fanga.
Homens como estes
morrem sempre cedo demais. As vidas esfumam-se quando ainda têm uma infinidade
de coisas a ver e a dizer. A única compensação que existe para este destino é a
continuação pelas gerações mais novas a quem transmitiram o testemunho.
Foi este desafio
que o nosso anfitrião tomou em suas mãos com esta obra; o museu do
neorrealismo, que só podia ser em Vila Franca de Xira, a terra de onde partiam
os barcos dos célebres passeios do Tejo.
Já tinha ouvido
falar de António Redol, por familiares deste, antes de o conhecer. Convivi com
ele durante a greve estudantil de 62, onde ele actuava na Secção de Propaganda
da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico. O Técnico tinha a
Associação melhor estruturada da Academia de Lisboa e exerceu um papel
preponderante na greve, por outro lado, o trabalho das secções de propaganda
foi importantíssimo, com comunicados a saírem diariamente e distribuídos por
todas as faculdades de Lisboa, durante meses. O que foi uma verdadeira dor de
cabeça para a PIDE que nunca conseguiu localizar as impressoras, na altura
offsetes.
António esteve
ligado a esta secção, até ao ano lectivo de 63/64. Como se pode comprovar pela
FOTO do livro em que pousa para a fotografia com um exemplar de um jornal acabado
de sair, e foi presidente da Associação em 1965/1966, curiosamente um ano
depois de Mário Lino, um dos autores do livro.
Foi também da direção
do cineclube universitário, organismo circum-escolar, como se designava na
época. Esta organização, teve um papel fundamental na formação das consciências
estudantis na luta contra o fascismo.
Formou-se em
engenharia química e trabalhou na EDP.
É um dos estudantes
presente na já célebre fotografia do Livro. Apesar de ter participado no
primeiro convívio na nossa casa em Santarém, declarou-se logo impossibilitado
de colaborar devido ao trabalho em que estava e está empenhado no museu do
neorrealismo.
Medeiros Ferreira,
é outro dos apresentadores do livro e também meu amigo de longa data.
Outro dia, a mulher
Maria Emília Brederote, pediu-me amizade no facebook , coisas que acontecem frequentemente
nas redes sociais.
A minha amizade com
o casal tem no mínimo cinquenta anos. O José Medeiros Ferreira foi um dos
grandes dirigentes estudantis, até à sua expulsão de todas as universidades do
país, durante 3 anos. Tendo também como alguns de nós sofrido a prisão e o
exílio. Era assim o fascismo. Distinguiu-se no ano de 62, pela sua facilidade
oratória e pelo forte sotaque micaelense, que o meu saudoso irmão Abílio, imitava
na perfeição.
Não vou falar do
seu extenso currículo, como politico e universitário, senão ficaríamos aqui
toda a tarde. Trajecto por todos conhecido, deputado à Assembleia Constituinte,
secretário de estado, ministro dos negócios estrangeiros, professor universitário,
comentador e benfiquista.
Seguimos caminhos
paralelos, mas julgo que este facto, em nada enfraqueceu a nossa amizade.
Exilados na Suíça, nos mesmos anos, separavam-nos cerca de sessenta
quilómetros, ele em Genebra e eu em Lausanne e diga-se em abono da verdade também
atitudes políticas diferentes dentro do combate ao fascismo. Contudo, encontrámo-nos
algumas vezes e em comum tivemos a vontade firme de regressar a Portugal, como
única opção.
No regresso, ambos
sofremos alguns entraves na realização da vida profissional, como sempre aconteceu
neste país com os estrangeirados, desde Luís António Verney, no seculo XVIII.
Aos dois agradeço o
terem aceite o convite para apresentarem o nosso livro.
Em todas estas
sessões os colegas que me precederam, falam de como surgiu a ideia de escrever
o livro, a tantas mãos, quantas as possíveis, mas eu não me vou alongar sobre
este tema.
À duvida do que
fazia um estudante de medicina no Técnico, a resposta é simples os meus pais
moravam na Alameda Afonso Henriques.
Como um bom
vendedor aconselho-vos a comprar o livro e para matarem a curiosidade leiam a
Introdução: De uma foto, em 1963, a um livro, em 2012. O título diz tudo.
Abro aqui um
parêntesis, para vos contar uma história lisboeta: Era hábito nos meses de
Junho/Julho, época de exames ouvirmos um foguetório na Alameda o que
correspondia a mais um engenheiro que se formava e por cada ano passado no
Instituto lançava-se um foguete. Passados muitos anos, regressado da Suíça fui morar
para as Olaias e todos os fins de mês era um foguetório pegado, fiquei curioso
e perguntei se os exames finais podiam ser todos os meses do ano. Foi quando
para meu espanto me explicaram que os foguetes vinham de Chelas e serviam para
anunciar a chegada da droga.
Fechando parêntesis,
vou dar-vos uma novidade em primeiríssima mão, a nº 6 da foto, a rapariga que
ficou registada no livro, por não identificada, e lhe apelidaram maldosamente
de Mata Hari, já é conhecida, tinha-se remetido ao silêncio, tal freira
carmelita, mas foi traída e identificada. Surpresa ou não, é uma grande amiga
também como a todos os outros, separada pelas estradas da vida.
Os segredos neste
país são difíceis de guardar. Faz-me lembrar um amigo brasileiro, infelizmente
já falecido, que viveu em Portugal durante o PREC, período em que as notícias
sigilosas chegavam a ser várias por dia e contraditórias, dizia na sua graça
habitual quando lhe pediam segredo: - Está tranquilo, cara, essa fica entre nós
e o povo.
Só nos falta
descobrir quem foi o fotógrafo, a minha teoria é que era uma máquina de disparo
automático. Garanto que já existiam há cinquenta anos.
Para quem não saiba
o Pancho é casado com a Noémia de Ariztia, née
Simões.
O livro se não
serviu para mais nada, valeu por ter trazido ao convívio, os amigos afastados pelos
caminhos dispersos.
Para
gozo de todos nós, os encontros continuam, a pretexto de mais um lançamento do
livro especialmente acompanhado de arroz de polvo, chanfana, cozido à beirão ou
dum sável com açorda.
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